Diferentemente do oportunismo intelectual e inconsistência política de FHC, propagador de excrescências pseudo-conceituais como "autoritarismo popular", o Cientista Social Luiz Werneck Vianna (Professor do Iuperj e autor de clássicos como Liberalismo e Sindicato no Brasil e Esquerda Brasileira e a Tradição Republicana) é um caso raro na cena pública e no campo científico nacionais: concilia sistemática pesquisa científica com autêntico compromisso republicano com nossas intituições. Werneck foi um dos mais destacados opositores ao regime militar, no histórico PCB depois nas fileiras do MDB, e um dos intelectuais responsáveis pela institucionalização progressiva das Ciências Sociais no Brasil. Nesse sentido, as análises de Werneck podem ajudar a esquerda brasileira a sair da prisão mental pós-mensalão, pois é tarefa da tradição dialética exercer não só as "a crítica das armas" contra a oposição de direita ao Governo Lula, mas fundamentalmente experimentar as "armas da crítica" e da auto-crítica para poder pensar e realizar o NOVO. Por tudo isso, selecionamos abaixo as passagens principais de seu último artigo "Tópicos para um debate sobre a conjuntura" (Nov. 2009) no qual segue as pegadas já firmadas em "O Estado Novo do PT":
"1. O capitalismo brasileiro é um experimento bem sucedido. (...)
2. A crise de 2008 serviu-lhe como duro teste, quando ficou comprovada a sua solidez. Do êxito da sua estratégia de defesa face à crise, resultaram tanto sua consolidação no plano interno quanto oportunidades para se projetar no mundo exterior. (...)
4. Não se pode, entretanto, ignorar que a crescente mobilização de recursos e fins da política para a condução da economia já indicam uma via de capitalismo politicamente orientado, velha conhecida da tradição republicana brasileira, a partir da qual, em conjunturas diversas _ a de Vargas, a de JK, e a do regime militar _ realizou-se o processo de modernização do país.
5. Se já havia elementos embrionários desse processo, aparentes em particular no segundo mandato do governo Lula, a crise, que denunciou a incapacidade do mercado de se autoregular, ao trazer de volta o tema do Estado e do seu papel como agência organizadora da economia, atualizou, imprevistamente, o repertório da tradição republicana brasileira. (...) A mobilização de tal repertório tem ignorado a crítica que lhe foi feita pelos movimentos democráticos e populares, no curso de suas lutas contra o regime autoritário, consagrada institucionalmente na Carta de 1988, que, ao preservar a instância do público como dimensão estratégica, submeteu-a ao controle democrático da sociedade.
6. A apropriação repentina desse repertório pela esquerda que se encontra na chefia do governo, que, antes, com a teoria do populismo e com a denúncia da natureza patrimonial do Estado, foi uma das suas principais críticas (...) parece significar, por ora, mais uma mudança provocada por motivos contingentes do que fundamentada em razões programáticas. Contudo, devem-se ter presentes os riscos e que tais práticas alcancem o enunciado e um discurso coerente. (...)
12. Por toda parte: centralização, verticalização. (...) Não é bom presságio para a democracia brasileira se apresentar sob a retórica de significar uma comunidade fraterna quando se encontra envolvida em uma política de vocação grã-burguesa. Como também não é o fato da sociedade, em sua diversidade, se deixar subsumir ao Estado, conferindo à liderança de um chefe de governo carismático a tarefa de cimentar a unidade dos seus contrários. Estamos conscientes dos riscos aí envolvidos? A pergunta deve incluir como destinatários os principais atores políticos que estão a dirigir esse processo.
13. É falso e anacrônico conceber a próxima sucessão eleitoral como a reedição dos embates entre a UDN e o PTB. Estado forte, sim, mas sob o controle da sociedade, e não sobreposto assimetricamente a ela."
domingo, 15 de novembro de 2009
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2 comentários:
Recomendo o outro lado:
http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4474&boletim_id=614&componente_id=10286
Liszt Vieira nunca teve muita minha simpatia em seus textos sobre globalização. Mas, se mostrou mais lúcido e sensível que o Werneck ao compreender as idissincrasias da nossa realidade onde, como o próprio Werneck assume, não há mercado auto-regulado.
Valeu George, quanto mais perspectivas maiores possibilidades! Abç
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