quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Efeméride!

E por falar no Gustavo Lemos, ele continua "desterrado" pelo blogger! [Alô Rodrigo, apareça para tomar um chopp e resolve o problema do rapaz. Brincadeira! Abs.]

Ainda assim, nos envia interessan-te polêmica na Folha de São Paulo (só para assinantes), entre os monstros José Murillo de Carvalho e Evaldo Cabral de Mello. O tema do debate é a "comemoração" dos 200 anos da vinda da Família real portuguesa para o Brasil. Os intelectuais tem visões distintas sobre o significado deste marco na História do Brasil. Recentemente discuti esse período com meus alunos do Alpha, veja a seguir trechos das entrevistas que teriam sido bons recursos para tratar o conteúdo.

FOLHA - As celebrações dos 200 anos da vinda da família real estão começando a tomar espaço na mídia e na academia. Que aspectos o sr. acredita serem mais importante levantar para a discussão sobre esse episódio hoje?
JOSÉ MURILO DE CARVALHO - Há dois momentos distintos igualmente importantes. O primeiro, a vinda da corte em si. O segundo, as conseqüências dessa vinda. Em nenhum dos dois casos houve determinismos históricos. O príncipe dom João podia ter decidido ficar em Portugal. Nesse caso, o Brasil com certeza não existiria.
A colônia se fragmentaria, como se fragmentou a parte espanhola da América. Teríamos, em vez do Brasil de hoje, cinco ou seis países distintos. Uma vez decidida a vinda, as coisas também poderiam ter tomado caminhos distintos, inclusive a fragmentação. Discutir essas alternativas e os fatores que conduziram os acontecimentos para a direção que tomaram me parece ser um tema relevante.

FOLHA - Que problemas o sr. vê no modo como esse debate está vindo à tona? MELLO - Há no Brasil uma insistência em reforçar o lugar-comum segundo o qual foi dom João 6º o responsável pela unidade do país. É até difícil reagir contra a historiografia que celebra a manutenção dessa integridade como resultado da vinda da família real. Isso não é verdade. A unidade do Brasil foi construída ao longo do tempo e é, antes de tudo, uma fabricação da coroa, mas não com o objetivo de que se criasse a partir dela um país independente.
Ela está relacionada à situação de Portugal no contexto europeu daquela época. Os poderosos eram a França e a Inglaterra e era preciso pensar estratégias para garantir o futuro do país naquele panorama.
A idéia de que era preciso fortalecer um império com os territórios de Portugal e Brasil começou no século 18, com dom Luís da Cunha [1662-1740, influente diplomata português que viveu em Londres, Madri e Paris], e foi desenvolvida depois com o Conde de Linhares, dom Rodrigo de Sousa Coutinho (1755-1812).
Além disso, é um absurdo que hoje se celebre a unidade antes de tudo -quando se pensa nesse momento da nossa história-, em vez de discutir que tipo de instituições republicanas e constitucionais estavam surgindo. Parece que herdamos o complexo de pequenez de Portugal para valorizar tanto essa questão.


Ilustração: Chegada da Família Real à Bahia. Portinari.

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