Ao passar pela manhã, na hora do almoço ou no fim da tarde pela Rua do Ouvidor, na quadra do Jardim São Benedito, é possível observar uma movimentação constante de cidadãos excluídos da riqueza que caracteriza essa cidade, sem qualquer acesso a oportunidades de vida digna e à proteção social do Estado. Não chega a ser uma aglomeração, mas eles afluem de forma regular – alguns diariamente, outros eventualmente – às portas do casarão que abrigou o antigo Colégio Santa Inês, hoje Mosteiro das Madres Redentoristas em Campos. Todos encontram ali acolhida para suas carências. Pão para sua fome, remédio para sua doença, ouvidos para suas “confissões” e desabafos, auxílio atencioso em momentos marcantes da vida de qualquer pessoa ou família, com a dignidade que costuma ser negada a parcela significativa de nossa sociedade – me emocionei com um caso de uma senhora pobre a quem as Irmãs possibilitaram a felicidade de se vestir e ornamentar com o esmero adequado às bodas de seu filho.
As irmãs redentoristas, que fizeram voto de clausura, seguem sua missão, como um “sinal profético” do Evangelho cristão, mas não ignoram as mazelas dos homens e de sua instituições. E, para além de sua vida contemplativa e monástica, estendem as mãos para os seus irmãos, compartilhando o fruto de seu trabalho com quem precisa. Prática cotidiana da solidariedade, ou da caridade como preferem alguns. Ou ainda, na singela definição da Madre Superiora, rotina de “dividir com os pobres” o pão e os recursos disponíveis.
Curioso que, na cidade onde religiosos de diversas matizes abençoam gestores que adotam a prática nada republicana de concentrar a riqueza privilegiando clientelas, e onde convênios escusos são firmados entre a municipalidade e instituições ditas “filantrópicas”, as irmãs redentoristas não recebam qualquer apoio da “boa sociedade” ou do poder público em seu visível e louvável trabalho social.
Mas é possível para qualquer um de nós apoiar essa ação social cristã. Além de encaminharem para quem realmente precisa doações de roupas, agasalhos e alimentos que podem ser enviadas ao mosteiro, as ativas, simpáticas e piedosas monjas produzem lindas lembranças e velas para cerimônias de primeira eucaristia de jovens cristãos, bordados e quitutes deliciosos – dentre eles um formidável pastelzinho de abacaxi que encantou o paladar deste articulista – tudo convertido na partilha fraterna do pão.
Artigo publicado na edição de segunda-feira (27/07) da
Folha da Manhã.