domingo, 26 de julho de 2009

"Nós Somos uma Cultura Muito Complicada!"

Eduardo Coutinho é um dos maiores cineastas e documentaristas brasileiros. Ele é autor de obras instigantes e perturbadoras como: "Cabra Marcado para Morrer" (1964/1984); "Santo Forte" (1999); "Edifício Master" (2002); "Peões" (2004); e, mais recentemente "Moscou" (2009). Esse brasileiro brilhante, será homenageado pelo Museum of Modern Art (MoMA) em Nova York, com um restrospectiva inédita sobre sua obra. Falando sobre sua arte e dos "motivos" que o movem, Coutinho declara (O Globo 21/07/09): "Meu cinema não é heróico e nem tem heróis. Muitos dizem que eu abandonei a política, que não faço cinema político. Eu sempre odiei cinema militante. 'Cabra' não era um flime militante, era um filme sobre seres humanos, sobre a vida de gente humilde que decide fazer teatro. (...) Essa preocupação com os seres humanos, com a solidão, com as formas de comunicação que são tão difíceis no cotidiano _ para mim, cada vez mais, são as coisas pequenas que interessam." Em outra passagem da entrevista, quando perguntado como os americanos poderiam entender sua obra e o Brasil retratado nele, argumenta: "Eles acham que brasileiro só fala de carnaval e de mulata, de bunda, de samba e violência. E ninguém aguenta mais isso. (...) O Brasil parece ser um páís fácil, mas não existe nada fácil no Brasil! Nós somos uma cultura muito complicada, que pega coisas de todas as culturas e mistura, faz mestiçagem de tudo, e poucos entendem o resultado dessa mistura. (...) O Brasil é um país sem direita: ninguém se diz de direita no Brasil! Então é um país complicado, onde as forças políticas são nebulosas. Mesmo depois da eleição do Lula e de um impressionante movimento operário, que foi o tema de 'Peões', você percebe a quantidade de acordos que precisam ser feitos para governar. O Brasil é um país onde não existe a noção de 'público'. As coisas são privadas ou são estatais, não existe diferença entre estatal e público, público no sentido daquilo que é partilhado por todos, no sentido do bem comum. Isso não existe no Brasil, o que é tremendamente triste."

2 comentários:

Renato Barreto disse...

Gustavo meu caro, acho que o Olavo de Carvalho tem toda a razão quando cobra a formação de um partido de direita no Brasil, tem que ter mesmo. O Bornhauser dizia que o Brasil não pode ter direita por causa da desigualdade, é uma explicação razoável, mas eles precisam sair de cima do muro, anunciar seus valores e arcar com os custos de suas escolhas.

Gustavo Carvalho disse...

Pois é Renatinho, sem um explicitação programática "os caras" ficam parasitando o sistema democrático, com um ativismo golpista cíclico. Além disso, na ausência de debate e dissenso qualificados só nos resta o senso comum da ignorância agressiva. Um pouco de coerência liberal seria saudável para todos, pois o exercício público de convencimento, no mínimo, leva ao aperfeiçoamento dos argumentos e dos projetos políticos!