sábado, 22 de agosto de 2009

111 ANOS DE GLÓRIAS

Nesse aniversário de 111 anos do Clube de Regatas Vasco da Gama, celebrados no dia 21/08/09, a melhor homenagem que pode ser feita é colocar a razão a serviço da paixão. Ao contrário da abordagem apologética ou da parcialidade ideológica da perspectiva do torcedor, optei pela explicação objetiva e fundamentada da relevância histórica e social do meu Vascão, relizada por pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento. Vamos aos fatos: No clássico Negro, Macumba e Futebol, o crítico de origem germânica Anatol Rosenfeld nos informa: "No Rio, onde a imigração portuguesa predomina, o Vasco da Gama, seguindo a postura tipicamente portuguesa da democracia racial, foi um dos primeiros clubes que, ainda na época do amadorismo, reforçou seu time com elementos de cor, ao passo que o Flamengo adotava, naquela época, uma política estritamente 'branca'. O Vasco tornou-se uma verdadeira potência."O historiador da USP Hilário Franco JR (A Dança dos Deuses: futebol, sociedade e cultura) confirma: "No Rio de Janeiro, o Vasco da Gama, clube que já havia elegido um presidente negro em 1904, Cândido Araújo, seria campeão na sua estréia na primeira divisão (em 1923), com jogadores negros e trabalhadores brancos, o que o tornou o clube mais popular na cidade durante as décadas de 1920 e 1930." O professor da UFRJ, idealizador do Laboratório do Tempo Presente, Francisco Carlos Teixeira Da Silva argumenta no belo livro Memória Social do Esporte: "Ainda nos anos 10 os pobres _ e claro, negros e mestiços _ não podiam participar da vida do futebol,(...). Entretanto, a partir das conquistas do Bangu (1906-1910) e do Vasco (1923-1924), a pressão pela incorporação de negros e mestiços e a conseqüente ruptura com a regra do amadorismo tornaram-se o centro político do futebol brasileiro." O brilhante pesquisador Luís Miguel Wisnik, em Veneno Remédio _ o Futebol e o Brasil, reflete sobre "a insuspeitada tomada simbólica do campo futebolístico brasileiro por negros e mulatos": "Vale lembrar que em 1923, o Vasco, venceria o campeonato caroca com um time pela primeira vez formado por brancos, negros e mulatos. Pode-se dizer, assim, que os portugueses fundadores do Vasco iniciaram a recolonozação do futebol brasileiro à sua maneira, sob o timbre da mestiçagem, dando condições econômicas para arrancá-lo do modelo anglófilo." É claro que podemos, ainda, encarar toda essa história através os olhos "imparciais" do poeta Aldir Blanc: "O Vasco da Gama soube, como nenhum outro clube, honrar a coragem do Almirante. Representa, em seu pendão, o suor português, a lágrima do índio, o sangue do negro. A história do Vasco confunde-se com a história do Brasil quando se trata de libertar, romper com o passado, quebrar grilhões e substituí-los pela esperança. Avante, Vascão, que, igualzinho ao fado, eu beijo as pedras do chão que pisares no caminho. E por ser o teu caminho o mar, as estrelas da bandeira, no futuro, serão tantas quantas as constelações que iluminaram a epopéia do Gama em direção ao Sonho.
Opa, derrubei o copo. Não faz mal. Em mesa de vascaíno, se não há vinho derramado, não há alegria."

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

REDE BLOG: Breve comentário em tempo

Faltando ainda pouco para a meia-noite, só agora este pai/blogueiro tem tempo de "atracar o relê" e postar ainda nesta data mais um breve comentário sobre a iniciativa da REDE BLOG de pautar a postagem coletiva do mês com o propósito de se defender de iniciativas de empresas de comunicação no sentido de atentar contra a independência e a liberdade de expressão na internet.
Entendo que as manifestações de solidariedade ao Professor Roberto Moraes e a outros blogueiros citados judicialmente pela Folha da Manhã desencadeadas há cerca de dez dias vem cumprindo com êxito um papel importante no sentido:
1- de retomar alguma organicidade desta REDE virtual;
2- de chamar a atenção da sociedade para os riscos representados pelas hipóteses de censura prévia e de constrangimento sobre os blogs e as possibilidades de interação dos mesmos com a sociedade/leitores;
3- de forçar tal empresa a refletir sobre a contradição implícita entre a natureza de sua atividade e os termos dos processos propostos por ela.
Assim, creio que esta breve contribuição, mais que uma obrigação deste blogueiro, proponente desta mobilização da REDE, é parte de mais um esforço coletivo que não termina aqui. De parabéns a REDE BLOG e todos os seus membros que, independentemente da oportunidade de participar desta postagem coletiva, integram de alguma forma esta mobilização que mais que um ato de legítima defesa é uma campanha em defesa da livre manifestação de opinião e pensamento.
"Sigamos em frente"!

Viva Raul

O Wellington Cordeiro manda avisar que hoje, às 22:00, na Praça do SENAI - próximo à antiga Estação da Rede Ferroviária - o gente boa Reubes Pess Canta Raul em show que homenageia o roqueiro nos 20 anos de sua passagem.
Boa pedida pra noite de quem não tem "anjos" por quem zelar!
Abaixo, na interpretação do craque Zeca Baleiro, uma pérola de Raul que provavelmente deve estar no repertório do Reubes, só de "aperitivo".
ATUALIZAÇÃO em 22/08, às 00:15
Pois ficamos só com o aperitivo! Acabo de ler no Urgente que, minutos antes do show, o mesmo MP que tem bravamente defendido a comunidade campista em atos e tentativas de improbidade administrativa, voltou a pisar na bola com a cultura local - como no caso do formidável chorinho do 360° - e suspendeu a presentação do Reubes. Lamentável!
Parece que por aqui o "direito difuso" serve apenas aos chatos, infelizes e mal-amadas(os) de plantão.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Sobre o preço mínimo da cana

O inquieto Xacal citou há alguns dias este blog ao propor um debate sobre a política de preço mínimo da cana, desenvolvida pelo Ministério da agricultura para produtores do nordeste e estendida recentemente aos plantadores de cana da região por iniciativa do deputado Chico D'Angelo (PT-RJ). Por razões de ordem particular não pude de imediato contribuir com o debate que recebeu algumas colaborações via coments no post d'A TroLha. Resolvi então, a bem do diálogo construtivo e esclarecedor, transcrever aqui minha intervenção naquele blog em resposta à provocação do blogueiro e aos comentários lá suscitados:

Há dez anos atrás, quando assessorei o Professor Luciano D'Angelo na Secretaria Municipal de Agricultura, participei da gestão que tentou efetivamente promover a diversificação agrícola entre os pequenos produtores de Campos, com o apoio da EMATER e da Pesagro. Leite, piscicultura, fruticultura, beneficiamento da própria cana (aguardente), foram alternativas fomentadas pelo então secretário junto aos pequenos e médios produtores rurais, que já àquela época representeavam a maioria dos proprietários rurais do município, no sentido de agregar valor à produção e promover a pequena agroindústria familiar.
Hoje, uma década depois, e apesar da desvalorização da cana, é inegável o apelo que tal cultura continua a ter junto aos produtores locais. Para quem não sabe, até mesmo assentados da Reforma Agrária produzem cana como uma das poucas alternativas de comercialização da produção, apesar do preço aviltado.
Assim, é um equívoco associar a medida aqui em debate aos interesses de usineiros e grupos empresariais que aqui se instalaram para explorar usinas locais. Isso se daria, se for o caso, de forma indireta.
O perfil dos associados da Asflucan hoje é diferente do que tal entidade já representou no passado e que ainda preenche o imaginário de militantes de esquerda.
É fato que a associação hoje reúne um conjunto de pequenos e médios fazendeiros empobrecidos e que muitas vezes não conseguem extrair da cultura lucro algum, além do que cobre os custos da produção. A medida aqui em debate não favorece latifundiários, e gera empregos. Não ignoro que empresas de fora que exploram usinas locais tem sido pródigas em burlar a Lei e explorar trabalho escravo, o que tem o meu mais veemente repúdio. Mas isso nada tem a ver com os dados do CAGED que atestam que a presença de trabalhadores locais em situação regular na lavoura de cana tem aumentado sistematicamente sua representatividade no emprego formal na cidade, fruto da ação fiscalizadora do Ministério do Trabalho no governo LULA.
Assim, pelos argumentos expostos, insisto que a medida é completamente distinta dos subsídios de outrora, citados pel'a hiena, contemplando uma base social que hoje é distinta dos usineiros e latifundiários questionados com razão pelos comentaristas supra.

Em defesa do PT

Com todo respeito ao eminente Senador Flávio Arns (PT-PR) e ao Rafael, que comentou o asunto em post abaixo mesmo antes deste texto, este blogueiro não vai tergiversar na defesa do Partido dos Trabalhadores neste momento de crise no Senado imposta pelo oportunismo eleitoeiro da oposição, cuja representação na Câmara Alta elegeu reiteradamente Sarney para presidir a Casa - inclusive, no ultimo pleito, contra candidato petista - manteve e se locupletou dos atos secretos e de outras benesses concedidas a muitos dos membros de sua bancada por Agaciel Maia, e agora quer posar de algoz de ambos num show de hipocrisia e desfarçatez.
Podemos buscar no discurso do respeitável Senador Arns um eixo da discussão, quando ele acusa o partido, do qual anunciou pretender se desligar, de "romper com a bandeira da ética". Ora, mas cabe aqui questionar de qual ética estamos falando? Da ética neo-udenista a serviço dos corruptos hipócritas dos "demo" e do PSDB, ou a ética da justiça social, da geração de emprego e renda, da redução na concentração da riqueza, da ampliação do consumo e da classe média, consequencias inegáveis do governo LULA?
Essa oposição oportunista é a mesma que conduziu o mesmo Sarney à Presidência da República, onde ele, assim como FHC conduziu o projeto histórico conservador da elite nacional. Projeto que com diferentes tons, mais ou menos modernizantes, sempre perpetuou a desigualdade social e a manutenção da oligarquia no poder. Os que hoje posam de "justiceiros" de Sarney foram seus sócios na reação contra o avanço da classe trabalhadora e dos representantes dos setores populares no sentido da conquista da hegemonia política, o que se concretizou com LULA, para desespero da imprensa golpista que dá palco e holofote aos reacionários que há anos são maioria no Congresso. Os tais "300 picaretas" de que LULA já falou. Vão aqui meus críticos dizer que parte deles hoje se bandearam de forma oportunista para nosso lado. Verdade. Pior para os conservadores e reacionários da mídia, do DEM e do PSDB!
Compreendo a posição do Senador Mercadante e admito compartilhar com ele certo constrangimento frente a situação. Mas só um neófito em política poderia ceder a sanha golpista dos hipócritas que desejam tomar de assalto a presidência do Congresso. O caso do falante Senador Arthur Virgílio, também arquivado, é esclarecedor sobre as "virtudes republicanas" dos que acusam Sarney e pedem sua cabeça.
2010 é ano eleitoral. A necessária cruzada republicana sobre o Senado se fará então oportuna, pelas mãos do povo, pelo voto, e não por uma camarilha de oportunistas travestidos de vestais. O amadurecimento democrático e das instituições deve conduzir a uma expressiva renovação das cadeiras em disputa! Cassar Sarney é algo que deve ser atribuição do povo do Amapá, e não dos falsos moralistas que sempre o adularam e a ele deram sustentação política, e agora tentam tirar proveito político eleitoral de seu ocaso. Devem dividir com ele a porta dos fundos da história.

Discrepância

Qual dessas pesquisas de intenção de voto se aproxima mais da realidade? Em termos metodológicos os parâmetros são: O Vox Populi ouviu 2 mil eleitores em 24 estados, entre os dias 31 de julho e 4 de agosto. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais. O Datafolha diz ter ouvido 4,1 mil pessoas entre 11 e 13 de agosto, com margem de erro de 2 pontos percentuais. Mas nada disso explica tamanha discrepância.


Vox Populi

Serra Dilma
30% 21%

Datafolha
Serra Dilma
37% 16%

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Cara-de-pau

Parece não haver limite para a desfarçatez e o descaso com que a dupla Cabral/Levy encara os servidores públicos do Estado.
Embora não responda mais pela direção do SEPE, não dá pra deixar de registrar aqui minha indignação com relação a ridícula proposta do governador para incorporar a gratificação do extinto programa Nova Escola em 6 anos!
Não bastasse o desrespeito com os profissionais da educação, como a cada dia sua reeleição se torna mais improvável, a proposta remete para o futuro Governador a maior parte do ônus da sua "generosa" decisão.
Lamentavelmente, a cada dia a carreira do magistério no Estado fica mais desanimadora, com salários que permanecem muito inferiorizados com relação ao que é pago por diversos municípios. Um professor em Nova Iguaçu, com o plano de cargos recém aprovado, pode chegar a ganhar 4 vezes mais do que a média dos vencimentos das aposentadas da rede estadual!
Com todo respeito, os colegas da FAETEC trabalham o dobro ou são duas vezes mais competentes do que os profissionais da SEEDUC? Outros concursos públicos parecem ser a saída para estes profissionais. Com estes salários aviltantes, será difícil a médio prazo suprir a carência de profissionais na rede estadual.

E por falar em samba...

O gente boa Valmir Kanal avisa que hoje tem Samba no Mercado às 19:00. O animado projeto cultural, desenvolvido pelo nosso querido fotógrafo está ganhando registro audiovisual. Hoje será gravado um making of da roda de bambas. Vale conferir!

Noite de samba

Já era terça-feira quando, após uma reunião - frente a hesitação de um amigo, a certeza da reprovação por parte dela e uma insuportável dor nos braços - desisti de conferir o samba do Saboya, que pelo que pude conferir nas duas ou três incursões que consegui fazer por lá este ano continua a ser uma excelente opção para os que tem o saudável impulso pela boemia às segundas e afins...
Cada vez mais fico convencido que as noites de sexta e sábado devem ser dedicadas à família, a uma visita a amigos ou a uma festa em ocasião excepcional. Bares, botecos e assemelhados são muito mais atraentes de segunda à quarta. Lotação moderada e público com um perfil digamos, diferenciado... Mas isso é só uma digressão.

O que quero dizer aqui é que a terça não ficaria sem samba. E de qualidade. Por um fato pontual ao longo da tarde - finalmente livre da insuportável dor muscular nos braços - me lembrei que terça é dia de um dos melhores programas musicais da TV aberta. O Samba na gamboa, do craque Diogo Nogueira, na TV Brasil. Assim, ao chegar da caminhada pela Av. Togo de Barros às 19:30 pude ver o programa que não via há tempos e, grata surpresa, tinha ontem como convidados Dona Ivone Lara e nosso bamba campista Délcio Carvalho. Ótima pedida.
Pra fechar a noite com chave de ouro, curti ainda a Lene Moraes, o Renatinho Arpoador e companhia ao levar um abraço à Katiana Rodrigues, que reuniu a família e os amigos pra comemorar mais um ano de vida... e de samba.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Pura ficção

Corria o ano de 2054, e ele, numa tarde quente, entre as centenárias paredes de um Solar que já foi sede de um engenho de missionários religiosos, numa certa baixada litorânea, tentava, confuso, articular as versões tão diversas que as páginas de edições de uma mesma data traziam para notícias que ele já nem sabia se poderia considerar fatos! Em sua razoável experiência, jamais havia encontrado situação tão pitoresca e surreal em suas habituais investigações em periódicos. Sim, estes tablóides continuavam a desafiar sua condenação contemporânea e exercer relevância não apenas na circulação de informações no cotidiano das sociedades, bem como para o ofício de historiadores como ele.
É bem verdade que já detinha razoável conhecimento sobre a sociedade cujo complexo contexto sócio-político e econômico na virada do século havia despertado sua curiosidade para aquelas plagas. Todavia, o artigo assinado por um conceituado cientista político local – identificado na edição de 22 de julho de 2009 do mais tradicional dos jornais locais – reafirmava sua compreensão da sociedade local, onde uma “elite preconceituosa e arrogante”, apesar de mudanças conjunturais, continuava, no início do século XXI, a servir como exemplo de “reacionarismo e irracionalismo”, pontuado desde o século XX em obras literárias e cinematográficas de importância no plano da cultura nacional. Naquele momento, tal elite hesitava entre o conflito contra a vanguarda da modernização republicana ou contra a “nova elite” representada pelo grupo político popularesco que, desde a última década do “século breve”, controlava o poder local, manejando habilmente mídias e exercendo liderança carismática entre a massa pobre, ampla base da população local.
Essa última querela determinava uma enorme distância nas versões da realidade apreendidas pelas páginas dos periódicos mais lidos, para além das diferenças no discurso editorial. Constatava que, apesar das falhas de memória – decorrentes dos quase 80 anos e de algum excesso em prazeres da vida – a entrevista com o velho professor e ativista político recuperava com lucidez o contexto pesquisado. Numa outra frente, o porta-voz da velha elite investia contra outras mídias que permitiam visibilidade a questionamentos lúcidos e propositivos da sociedade civil, graças a novas tecnologias cujo acesso então se ampliava democraticamente.
Numa ata de uma sessão do Legislativo municipal realizada em 1999, uma pista para compreender as contradições gritantes nas páginas da imprensa daquele distante emirado: uma frase onde um dos Presidentes daquela Casa de Leis afirmava que nas páginas da mídia local “o verbo depende da verba”!

Artigo publicado na edição de hoje da Folha da Manhã.