Corria o ano de 2054, e ele, numa tarde quente, entre as centenárias paredes de um Solar que já foi sede de um engenho de missionários religiosos, numa certa baixada litorânea, tentava, confuso, articular as versões tão diversas que as páginas de edições de uma mesma data traziam para notícias que ele já nem sabia se poderia considerar fatos! Em sua razoável experiência, jamais havia encontrado situação tão pitoresca e surreal em suas habituais investigações em periódicos. Sim, estes tablóides continuavam a desafiar sua condenação contemporânea e exercer relevância não apenas na circulação de informações no cotidiano das sociedades, bem como para o ofício de historiadores como ele.
É bem verdade que já detinha razoável conhecimento sobre a sociedade cujo complexo contexto sócio-político e econômico na virada do século havia despertado sua curiosidade para aquelas plagas. Todavia, o artigo assinado por um conceituado cientista político local – identificado na edição de 22 de julho de 2009 do mais tradicional dos jornais locais – reafirmava sua compreensão da sociedade local, onde uma “elite preconceituosa e arrogante”, apesar de mudanças conjunturais, continuava, no início do século XXI, a servir como exemplo de “reacionarismo e irracionalismo”, pontuado desde o século XX em obras literárias e cinematográficas de importância no plano da cultura nacional. Naquele momento, tal elite hesitava entre o conflito contra a vanguarda da modernização republicana ou contra a “nova elite” representada pelo grupo político popularesco que, desde a última década do “século breve”, controlava o poder local, manejando habilmente mídias e exercendo liderança carismática entre a massa pobre, ampla base da população local.
Essa última querela determinava uma enorme distância nas versões da realidade apreendidas pelas páginas dos periódicos mais lidos, para além das diferenças no discurso editorial. Constatava que, apesar das falhas de memória – decorrentes dos quase 80 anos e de algum excesso em prazeres da vida – a entrevista com o velho professor e ativista político recuperava com lucidez o contexto pesquisado. Numa outra frente, o porta-voz da velha elite investia contra outras mídias que permitiam visibilidade a questionamentos lúcidos e propositivos da sociedade civil, graças a novas tecnologias cujo acesso então se ampliava democraticamente.
Numa ata de uma sessão do Legislativo municipal realizada em 1999, uma pista para compreender as contradições gritantes nas páginas da imprensa daquele distante emirado: uma frase onde um dos Presidentes daquela Casa de Leis afirmava que nas páginas da mídia local “o verbo depende da verba”!
Artigo publicado na edição de hoje da Folha da Manhã.
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
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9 comentários:
Mapeamento dos buracos no Bairro da Lapa.
Um levantamento feito, mostra que as ruas da lapa estão assim.
Av: Adão Pereira Nunes: 23 Buraco isso mesmo só em uma rua
Av: Rui Barbosa: 04
Rua Drº Miguel Heredia: 03
Rua: Riachuelo 05
Rua: Sete de Setembro 03
Rua: Manoel Moll 06
Rua: Manoel Monteiro: 04
Rua: Dos Goytacazes: 03
Rua: Gonçalves Dias 08
Total de Buracos: 59
Bravo texto!
ótimo texto, Fábio, ótimo texto...
Muito bom, Fábio.Adorei!!!
Abraços.
O que me adimira é que "os caras" publicaram!
Valeu Fabinho. Muito bom e providencial o texto. Saiu porque agora querem mostrar pluralidade e tentar resgatar algum crédito. Sigamos em frente!
Estou extasiado com o texto, suplanta Jorge Amado, J.G. de Araujo Jorge e outros grandes pensadores desde a Platão, na antiguidade até Amaro Rolinha. Mais confuso do que gago surdo.
Um texto primoroso, enfático e direto. Pode ser comparado à seguinte sequência: um direto no plexo solar, seguido de um cruzado de direita, outro de esquerda, finalizado com um uppercut no queixo. Resultado: nocaute.
Parabéns Fábio!
Agradeço a generosidade do Provisano, mas creio de fato que os dois comentários imediatamente acima exageram nas considerações sobre meu modesto texto.
Ironia à parte, não tenho pretensões à literato ou pensador. Mas creio que as duas visões sobre a crônica futurista se distinguem em função de boas doses de informação e imaginação, afinal, como o próprio título diz, trata-se de "pura ficção".
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