O dia doze deste mês foi marcado por uma manifestação em Washington nos EUA que recebeu injustificada negligencia dos meios de comunicação no Brasil e em outros países. Os organizadores falam em um milhão de pessoas e diferentes órgãos da imprensa calcularam entre trinta e setenta mil o número de manifestantes. Estamos falando da “Taxpayer March” ou marcha do contribuinte, com amplo apoio da rede Fox de televisão a mobilização foi convocada por uma organização chamada Freedomworks que defende redução de impostos e não intervenção do estado na economia. O objetivo era protestar contra o aumento de impostos e contra as ações do governo Obama no sentido de expandir o sistema de saúde pública no país.
Aparentemente tudo corriqueiro: um país democrático, uma manifestação pacífica, um protesto contra aumento de impostos. Nada mais americano que isso, afinal o país foi fundado a partir de um movimento inicialmente motivado por questões de natureza tributária. No entanto um olhar mais atento aos manifestantes revela imagens incríveis, assustadoras. Refiro-me aos cartazes caseiros que vários americanos portavam com indisfarçável orgulho, as frases e montagens fotográficas são tão surreais que parecem ficção. Um garoto de uns treze anos trajava uma camiseta preta onde se lia: “a cura para o comunismo de Obama é uma nova era de Macarthismo”; uma senhora idosa carregava um cartaz intitulado “a matemática americana”. Nele é possível ver as fotos de Lênin, Stálin, Hitler e Fidel Castro cuja soma é igual à Obama. Mais a frente outra senhora empunha os seguintes dizeres: “O anticristo está vivendo na casa branca”. As imagens exibem com cores fortes o pensamento da extrema direita americana, um cartaz parece resumir o desejo de todos: “Enterraremos Obama como fizermos com Kennedy”.
O pensamento conservador nos EUA tem raízes na colonização, o país sempre teve vários grupos de extrema direita sendo alguns organizados
O radialista e cineastra Alex Jones filmou “A decepção Obama” onde acusa o presidente de ser um agente a serviço de financistas que também teriam patrocinado Lênin, Stalin e Hitler. James Von Brunn ex-combatente da segunda guerra é nazista assumido, escreveu livro louvando Hitler e negando o holocausto, é autor de vários atentados e de pelo menos um assassinato. Sua acusação: Obama é um representante disfarçado de uma conspiração judaica. Pela matriz religiosa os ataques procuram apresentar o presidente americano como um ateu pró aborto e que pretende promover o islamismo. Jornais já chegaram até a questionar a nacionalidade do presidente afirmando que teria nascido no Quênia e não no Havaí. Delírios histéricos como estes expressam a voz de uma minoria branca ressentida que como vemos não conseguem enxergar nada além de seus preconceitos, a boa notícia é que eles não têm voto. Mas a postura dos republicanos é preocupante, desmoralizados com o fracasso retumbante de Bush filho e com a crise que ele pilotou, flertam com esses grupos, alimentam suas insanidades. Sarah Palin ex-candidata à vice pelo partido escreveu que a reforma de saúde proposta por Obama vai promover a eutanásia dos improdutivos e instaurar o “tribunal da morte.”
A quase cento e oitenta anos atrás o francês Aléxis de Tocqueville escreveu um livro genial sobre os EUA que ele visitou, e no penúltimo capítulo alertava: “a espécie de opressão com que os povos democráticos são ameaçados não se parecerá em nada com a que precedeu no mundo ... despotismo e tirania não convém. A coisa é nova, é preciso procurar defini-la.”
artigo publicado no Monitor Campista, 30 de setembro