Começo pedindo aos leitores desculpas pela rima que não é nada agradável, mas penso que ela resume com precisão o conteúdo deste artigo e ainda revela uma informação significativa sobre a última eleição presidencial dos EUA e sobre o universo da política.
Francis Fukuyama é conhecido no mundo por sua combatividade, está entre os mais criativos intelectuais conservadores americanos dos últimos tempos, dotado de uma sólida formação teórica tornou-se um influente pensador sendo capaz de elaborar uma volumosa produção acadêmica, promover entusiasmado ativismo político e ter voz nos principais centros decisórios do país. Não é o criador do movimento “neocon”, mas foi um assíduo e respeitado colaborador.
Autor do polêmico livro sobre o fim da história onde analisa as razões da vitória das democracias liberais sobre os regimes socialistas, Fukuyama foi ainda um dos mentores da doutrina Reagan e ativo colaborador do projeto New American Century organização de intelectuais que defende desde 1997: “a responsabilidade pelo papel único da América em preservar e estender uma ordem internacional favorável para a nossa segurança, nossa prosperidade e nossos princípios.” Foi um dos signatários da carta enviada a Bill Clinton reivindicando que os EUA promovessem uma ação militar para derrubar Saddam Hussein e logo depois dos atentados de 2001 enviou nova carta a Bush defendendo derrubada do líder Iraquiano “mesmo que as evidências não o vinculem diretamente aos ataques."
A partir de 2005 Fukuyama liderou um racha na direita dos EUA, indignados com o crescimento dos gastos governamentais e com os fracassos no Iraque um grupo de intelectuais partiu para oposição ao governo Bush rompendo com a tradicional revista The National Interest para fundar a The American Interest, uma publicação trimestral com pretensões de influência global que recrutou gente de peso como Samuel Huntington e Niall Ferguson. As criticas a política externa da era Bush foram subindo de tom até fevereiro de 2006, quando Fukuyama redige um texto de mais de sete páginas publicado no New York Times anunciando seu rompimento com os neoconservadores. Ali o autor revela a história do grupo desde os anos trinta; defende sua tese sobre a modernidade: “o fim da história”, segundo ele um “tipo de argumento Marxista” e afirma as razões do rompimento. Em tom lacônico escreve: “o neoconservadorismo evoluiu para algo que não posso mais apoiar.” E completa “o mundo hoje carece de instituições internacionais efetivas, que possam conferir legitimidade à ação coletiva internacional.” Sem duvida uma grande revisão.
Depois disso viriam novos textos cada vez mais críticos em relação ao governo Bush e aos republicanos, chegou mesmo a dizer que estes só tinham duas idéias para governar: cortar impostos e reduzir o governo, idéias que segundo ele eram inadequadas e ineficazes. Criticou ainda a falta de controle governamental que foi responsável pelo delírio financeiro de Wall Street que gerou a recessão de 2008.
É claro que Francis Fukuyama não deixou de ser um pensador conservador, suas convicções intelectuais a respeito do papel dos EUA no mundo, suas posições sobre o conflito palestino e sobre a forma como seu país deve tratar as nações muçulmanas são uma prova disto. Seria muito bom para a democracia brasileira se os nossos intelectuais de direita fizessem como Fukuyama e assumissem publicamente suas posições, isto permitiria o livre debate que é sempre o melhor caminho. Mas a direita no Brasil não se assume e vive em uma eterna crise de identidade que impede sua exibição pública. O resultado é que aqui ninguém é de direita, não há partidos de direita, não há manifestos de direita, pelo menos não são assim assumidos. Deviam seguir o conselho de Mae West. Em uma entrevista afirmou “antigamente me envergonhava da vida que levava”. O repórter interrompeu indagando se ela tinha mudado de vida. “Não, simplesmente parei de me envergonhar.”
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