terça-feira, 8 de abril de 2008

Dica do Luciano!

Para quem não sabe, este blog tem a honra de receber a visita diária do Mestre Luciano D'Angelo, que agora se inclui entre os colaboradores do espaço.
Por e-mail ele sugere a reprodução aqui de artigo de outro craque, representante da cultura e do jornalismo local, Professor Orávio de Campos, publicado na edição de ontem (07/04) da Folha da Manhã.
Sugestão acatada, segue aqui oportuno debate proposto por Mestre Orávio:

Ziégler e Zumbi dos Palmares

O agitador suíço Jean Ziégler, representante da ONU nos principais eventos sobre a fome no planeta, autor do livro “O Poder Africano” — Elementos de uma Sociologia Política da África Negra e de sua Diáspora nas Américas —, chama atenção para um problema no mínimo interessante e diz respeito às representações ideológicas do colonialismo no cerne das culturas pós-modernas.
Segundo ele, os que pensam que os colonizadores europeus, aportados no Brasil no século XVI, com a cruz do cristianismo barroco e com a rotulagem da Companhia de Jesus, são coisas do passado, se enganam. E aclara que “hoje, à luz dos avanços das tecnologias mascaradas pelo contexto da comunicação, esses elementos estão presentes em todas as instâncias da sociedade moderna”.
E o pior: continuam a exercer, nos meandros sociais e políticos, influências danosas às culturas nativas e às definições conceituais sobre a identidade do povo, desrespeitada enquanto origem étnica. Muito pior: este neocolonialismo assume, na contemporaneidade, aspectos religiosos mais agressivos e intolerantes dos que os praticados pelos jesuítas, através do falso discurso da salvação.
Tudo isso serve para mostrar à sociedade o despreparo dos governos com relação aos primados culturais e o que eles representam para a cidadania. A Fundação Zumbi dos Palmares acaba de empossar uma diretoria composta por elementos portadores da cultura religiosa dos colonizadores, consubstanciada pela visão do evangelismo neopentecostal, com raízes europeizadas.
Não há nada pessoal contra as figuras indicadas por políticos. Mas é um absurdo a entidade, cuja filosofia estatutária está ligada à preservação das culturas afrodescendentes, esteja nas mãos de pessoas que, em tese, satanizam as religiões oriundas dos seus antepassados. Ou se modifica a norma da entidade ou nela se instaura os princípios éticos de seus representantes.
A situação torna-se mais grave, ainda, na medida em que tudo isso fere dispositivos constitucionais que falam sobre a liberdade de expressão religiosa. Não se sabe como será a presença, no mesmo espaço, de colonizadores evangelistas e radicais com os antigos e sagrados signos das tradições iorubas, jêje ou nagô...
Aliás, a fundação, cuja instalação deve-se à espiritualista Vovó Teresa e depois dominada por políticos/partidários, nunca chegou a cumprir as funções para as quais se obriga em nome de uma cultura com mais de 5 mil anos. E longe está de outras fundações dedicadas a Quilombo de Palmares.
Mas a insensibilidade do prefeito em exercício é de doer. Se o discurso pós-moderno, mesmo produzindo perplexidade, precisa fazer sentido, o ato do alcaide criou um “samba do branco alucinado”. Fica difícil compreender as descendências africanas genuflexas diante das densidades religiosas e modernas de seus antigos feitores.
Ninguém merece. Mas a religiosidade imanente e transcendente da África, que habita em todos nós, deveria merecer, pelo menos, respeito.


Atualização em 09/04 às 15:30:
Sobre a polêmica instalada com este artigo, o Professor Orávio concedeu entrevista ao Urgente. Veja aqui.

Um comentário:

xacal disse...

aleluia, xangô...

eparrê, sai que esse corpo não é seu...

é de paz, é de paz....

humm.humm aleluia mizifio