sábado, 16 de janeiro de 2010

Haiti: Hobbes 1 X 0 Rousseau

A tragéria inominável que acometeu o Haiti tem o status de "experimento filosófico" radical. 1º) De acordo com Dostoiévski, a síntese do niilismo (o sem sentido de uma existência sem o "elo" com valores absolutos ou a crença no NADA) é a certeza de que "Deus está morto!" Essa aniquiladora certeza adviria da consciência do caráter injustificável do sofrimento dos inocentes, do qual temos testemunho massivo e diário. Portanto, num mundo ordenado pelo logos e providência divinos não haveria lugar para tamanha estupidez cósmica: milhares de mortos, feridos e degradados pela banalidade de eventos naturais ou a barbárie das guerras. O filósofo alemão Nietzsche, não só concorda com o diagnóstico do escritor russo como acrescenta: o niilismo é a consequência lógica da crença na existência de "valores transcendentes". Para ele, a única terapia eficaz contra essa ilusão da cultura ocidental é o cultivo dos "valores afirmativos da vida" ou a livre expressão da vontade de potência dos indivíduos. 2º) A filosofia política moderna possui duas grandes abordagens sobre o poder a partir da natureza humana: Hobbes e Rousseau. São pensadores clássicos do contrato social, por meio do qual os homens superariam o "estado natural" em direção à sociedade organiza politicamente. A diferença fundamental entre eles está justamente no "motivo" pelo qual os homens viveriam juntos sob a autoridade do Estado: para Hobbes (segundo o qual o homem é uma criatura naturalmente egoísta e cruel) a razão exclusiva para existência da ordem social é garantir a segurança e defender a propriedade privada; para Rousseau (que acreditava na consciência moral do homem como ancorada na capacidade de empatia e compaixão) o contrato social deveria garantir a ordem social e buscar a igualdade social. Se levarmos em conta o modus operandi majoritário da ajuda internacional no território haitiano, podemos constatar a primazia hobbesiana dada à defesa da ordem contra o medo da violência das massas e a preocupação especial com as propriedades e bens privados, enquanto a população desorientada e famélica, que vaga pelas ruas como zumbis sub-humanos, deve esperar a sua vez! A população haitiana representa o coletivo e moderno homo sacer, o sagrado e especial ser que os antigos usavam como objeto de sacrifício aos deuses. A diferença é que agora tratamos esse objeto como um número em escala de milhares num rito meramente midiático e espetacular.

5 comentários:

Renato Barreto disse...

Muito bom meu caro, muito bom...

Se7e/5 disse...

Como bem se sabe, muito do que parece não é, não é verdade?

Pois é, por isso e seguindo os temas delicados que a situação exige, o se7e/5 pretende abordar o problema da maneira mais séria possível. Sei que não é fácil e, para dizer a verdade, reconheço que é uma tarefa fodida e até muito perigosa mas, como dizia o "outro", alguém tem de a fazer. Não pense caro/a amigo que aqui o se7e/5 não ponderou , apenas, num assomo de desejo, partiu para a conquista e só porque a menina blogosfera estava com as perninhas bem escancaradas resolveu F..-la. Não, apenas enfrentar a "coisa" de frente sem medo do bicho nem da bicha ou bichona. Os temas devem ser tratados de maneira séria e responsável e não podemos (conto com vocês) deixar que a loucura invada as mentes mais desprevenidas. Nossos amigos e, principalmente as amigas, essas boazonas,devem ser protegidas do bicho papão, esse cabeção que tenta por todos os meios enfiar-se em tudo que lhe cheira a buraquinho acidoso. Tal como o nosso querido amigo e muito estimado J.W.Bush muito bam disse, "quem não está por nós, está contra nós". Aqui o se7e/5 diz que a esse W só lhe faltava o C, e deviam era empacotá-lo por trás e a seco, mas como isso não vem a propósito, e para finalisar que se faz tarde, quero deixar bem claro que não estou com ninguém e eu próprio estou contra mim e só por isso concordo comigo e tudo farei para que vocês, meus prezados amigos leitores, assumam a mesma atitude e vice-versa.

João Gabriel disse...

A cena de violência e saques por um pouco de comida é a manifestação viva do estado natural hobbesiano.

Passado este primeiro momento de necessidade e com a reorganização da sociedade (em torno da ajuda internacional, por certo), espero ver um movimento de reconstrução do pais, pelos haitiano e para os haitianos em que os princípios, daí de Rosseau, de compaixão e união construam um país melhor (que o anterior, diga-se).

Gilberto Nunes disse...

Excelente Artigo!

Meus sinceros parabéns!

Paz e Bem

Gilberto Nunes disse...

Hobbes 2 x 0 Rousseau