segunda-feira, 20 de abril de 2009

Tudo que é sórdido se desmancha no ar?

Esse é um daqueles artigos meio datados, que não são escritos exatamente no momento em que são concebidos – e que por isso talvez percam um pouco da oportunidade – mas que permanecem na pauta do articulista e cuja idéia exige ser trabalhada, pois a sua consciência acusa a pertinência do debate.
Numa estranha coincidência, nas primeiras semanas de abril, quando as pesquisas de opinião começaram a indicar um crescimento da pré-candidatura de Dilma Roussef nas intenções de voto para a corrida presidencial, matérias na imprensa nacional começaram a remexer os arquivos do DOPS avidamente, em busca de passagens e atos que pudessem de alguma forma desabonar a Ministra em seu possível projeto eleitoral.
O jornal Folha de São Paulo, em sua edição do último dia 05 exacerbou nas especulações maldosas ao sugerir, com bases em arquivos da ditadura e depoimentos de ex-militantes de organizações da esquerda clandestina, que a pré-candidata do PT tivesse envolvimento em um suposto plano de sequestro do Deputado Delfim Neto e em ações armadas, para as quais teria recebido treinamento militar. A Revista Piauí, publicação preferida da
inteligentsia nacional de centro-direita, na edição deste mês traz extensa matéria de Luiz Maklouf Carvalho que reconstitui a trajetória pessoal e política de Dilma. Ali também há sugestões maliciosas sobre a ação dela na clandestinidade, como a “revelação” de sua participação, sob tortura, na prisão do operário Natael Custódio Barbosa, em 1970.
Penso que são atitudes como estas que levam o jornalista Paulo Henrique Amorim a classificar grande parte da mídia nacional como integrantes do que ele chama de PIG – Partido da Imprensa Golpista. Eu, particularmente, acho estranho tanto interesse simultâneo de órgãos críticos ao governo LULA por tal pauta agora. Se considerarmos o quanto o assunto é delicado e polêmico, as sutilezas nas versões e o que eventual leviandade numa informação não confirmada pode suscitar junto à opinião pública num período pré-eleitoral, podemos vislumbrar algo de sórdido em tal interesse editorial. Nos próximos dezessete meses observaremos a evolução desta linha de ação e seu poder de desgaste. Vejamos se, como outros preconceitos e tabus já superados nesse país, tal pretensão de interferir no cenário político se desmancha no ar.



Artigo publicado na edição de hoje da Folha da Manhã.
Obs. Talvez por alguma falha no arquivo enviado por e-mail ou algum outro contratempo na editoria, o título do artigo lá publicado foi, lamentavelmente, alterado, o que, nesse caso, faz muita diferença. Aqui, mantemos o título original, com sua sutil referência.

3 comentários:

ruivo disse...

espera se aproximar das eleiçoes entao.
vamos ter q enfrentar as tropas da veja, globo, e toda essa midia filha da puta de direita.

Anônimo disse...

Caro Fábio, parabéns pelo texto!

Pergunta: por que a Folha trocou "Tudo que é sórdido se desmancha no ar?" por "O sórdido se desmancha no ar?"

Por favor seja mais claro que:

"Obs. Talvez por alguma falha no arquivo enviado por e-mail ou algum outro contratempo na editoria, o título do artigo lá publicado foi, lamentavelmente, alterado, o que, nesse caso, faz muita diferença. Aqui, mantemos o título original, com sua sutil referência."

OLHA O PIG!

FÁBIO SIQUEIRA disse...

Caro anônimo,

Não acredito em manipulação deliberada. Acho mesmo que houve algum problema no arquivo ou alguma razão ligada à diagramação ou layout para justificar a alteração.
Talvez a minha sutileza tenha sido "sutil demais" para o responsável pela liberação do texto - não sei ao certo quem teve esta tarefa no domingo. Mas claro que lamentei a alteração, já que acredito que p/ vc e mais meia dúzia de leitores a referência no título original é clara. Enfim, que fez diferença fez, mas, paciência...