quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Cibercidadão ? – parte 1

A internet está se tornando uma ferramenta cada dia mais presente na vida dos brasileiros, o instituto de pesquisas IBOPE realiza mensalmente pesquisas visando mensurar o volume de indivíduos com acesso à rede no país. Em junho de 2008 eram 41,5 milhões de pessoas com mais de 16 anos que navegavam pela rede, um ano depois o número havia subido para 62,3 milhões. Os impactos deste novo contexto já são visíveis tanto em nível das interações privadas quanto sobre as atividades do mercado, empresas intensificam investimentos na rede seguindo o frenético ritmo de crescimento dos internautas. Mas os impactos da internet sobre a vida política das sociedades contemporâneas continuam a ser uma incógnita.

Episódios recentes revelam as potencialidades da internet na arena política, lembremos, por exemplo, que praticamente toda a arrecadação da campanha do presidencial de Barack Obama foi feita na rede de computadores. As manifestações ocorridas em junho no Irã que protestavam contra a eleição de Mahmoud Ahmadinejad só puderam ser convocadas e expostas ao mundo graças aos computadores e as câmeras de celulares. Nas eleições espanholas do ano passado a emissora de TV pública exibiu no ar perguntas de eleitores feitas para os candidatos, via You-Tube. No Brasil, campanhas eleitorais utilizam com intensidade a internet e os diversos blogs ligados a temas políticos já conquistaram um volume de leitores que muitas vezes ultrapassa a tiragem de jornais impressos.

O universo acadêmico acompanha de perto todas estas mudanças, já há um número expressivo de trabalhos acadêmicos que discutem diferentes aspectos das interações entre internet e política. Há desde herméticas polêmicas teóricas até trabalhos que buscam rastrear os impactos e apontar perspectivas de longo prazo. Uma das linhas de pesquisas mais prolíferas investigam os portais de governos e casas legislativas visando tipificar e avaliar suas informações bem como suas capacidades de interlocução com os eleitores. Só para citar um exemplo, a Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia aplicada ao Governo Eletrônico fará, este ano, seu quinto encontro internacional reunindo pesquisadores que acompanham o processo de informatização dos serviços e atividades governamentais. Mas todos os esforços estão longe de esgotar as polêmicas.

Passados mais de vinte anos de expansão da internet no mundo é possível identificar pelo menos duas correntes de opinião antagônicas sobre as relações entre a rede e a democracia: de um lado os “ciberotimistas” e de outro os “cibercéticos”. Para os primeiros a internet se configura como uma “nova esfera pública”, segundo Pierre Levy a “inclusão, transparência e universalidade tornaram a internet o mais inclusivo meio de comunicação já inventado” permitindo a formação de uma “nova raça de cidadãos... mais informados, politicamente mais ativos e habituados a se exprimir.” Manuel Castells em seu livro A galáxia da internet afirma:“Esperava-se que a internet fosse um instrumento ideal para promover a democracia — e ainda se espera”

Na posição oposta os “cibercéticos” contra atacam afirmando que a pluralidade que se manifesta na rede pode resultar em uma paralisia dos processos deliberativos parlamentares caso sejam capturados pela multiplicidade de opiniões expressas na rede. Para o inglês John Downey, especialista em meios de comunicação de massa, a internet abre espaço para grupos radicais que dialogam apenas entre si reforçando suas posições extremistas e “ameaçando a democracia deliberativa”. Mais severo, o sociólogo francês Dominique Wolton considera a internet e suas arenas discursivas como algo pouco sério, um espaço onde predomina o “caos e a experimentação adolescente”.

Não devemos pensar estas questões sob o prisma da técnica, a polêmica é de natureza política exatamente como afirma o economista americano Peter T. Knight, um dos organizadores do livro “Governo eletrônico no mundo”: a internet deve ser um “facilitador da participação da sociedade no governo e do exercício do controle social. Não é por meio da tecnologia que se criará a participação nem o controle social, mas, se já existem mecanismos para isso, então ela pode facilitar sua concretização.”

Artigo publicado no Monitor Campista, quarta feira 05 de agosto de 2009

Um comentário:

xacal disse...

Caros Amigos,

Entre os cybercéticos e cyberotimistas há uma esfera pública que, aos poucos, deixa de existir como a compreendemos...por isso, acho que esse debate está desfocado...

A rede pode ser tanto o que os céticos dizem, mas também pode ser, não uma nova esfera pública, mas sim, uma esfera alternativa, complementar...

Um abraço...