O futebol ("o velho e viril esporte bretão") não é uma trivial modalidade esportiva. Ele é o esporte/jogo/arte mais popular da face da terra, e isso, por si só, já o tornaria um um fenômeno extra-ordinário. Contudo, o que torna o "jogo do povo" especial é, sem dúvida nenhuma, sua capacidade de "fazer ver" o drama humano (da atuitude mesquinha mais atávica ao gesto de humanidade mais sublime). Nesse sentido, alguns personagens são emblemáticos e especialmente representativos. E esse é o caso do centro-avante Obina, que mesmo não sendo melhor do que Êto é capaz de tornar a sua versão palmeirense melhor do que seu folclórico personagem rubro-negro. Pois, ontem à noite no jogão Palmeiras x Goiás, o Obina se reencontrou com sua lenda pessoal e destino manifesto dos centro-avantes: o gol. Para ser fiel aos fatos, o "homem acarajé" fez três e passou de calcanhar para outro marcar. Não, Obina não é um clássico, nem é um centro-avante brilhante, ele se aproxima mais de um trabalhador esforçado ou homem comum em seu dia de herói. Em poucos minutos, o futebol proporcionou a experiência de radical metamorfose de um homem: de "humilhado e ofendido" operário para o portador da "vontade de poder" de um artista genial. É por essas e outras que o poeta e vascaíno Carlos Drummond de Andrade presta essa homenagem:
FUTEBOL
Futebol se joga no estádio?
Futebol se joga na praia,
Futebol se joga na rua,
Futebol se joga na alma.
A bola é a mesma: forma sacra
para craques e pernas-de-pau.
Mesma volúpia de chutar
na delirante copa-mundo
ou no árido espaço do morro.
São vôos de estátuas súbitas,
desenhos feéricos, bailados
de pés e troncos entrançados.
Instantes lúdicos: flutua
o jogador, gravado no ar
_afinal, o corpo triunfante
da triste lei da gravidade.
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
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