Em agosto escrevemos aqui sobre um intrépido pesquisador que, em 2054, tentaria, em vão, articular algum sentido sobre o contexto de um emirado tão, tão distante, a partir da versão de diferentes periódicos em circulação em seu objeto de investigação no início do século XXI.
Pois agora sua curiosidade pendia para a histórica edição que findava uma coleção – a mais antiga – que, à parte a tradição, lhe parecia especialmente interessante no período estudado: o início do ocaso do esplendor daquela “civilização”. A data: 15 de novembro de 2009. Uma data simbólica, histórica para a Federação e para aquele triste ente, no epílogo dos dias da glória que poucos puderam desfrutar.
A coleção em questão, que subitamente – uma consulta aos arquivos virtuais da Google revelaria que não tão subitamente assim – se encerrava era diferente das outras no olhar sobre a realidade local no início do século XXI. Ele não sabia bem classificar esta diferença, às vezes mais ou menos sutil. Mas havia mais, digamos, equilíbrio no registro dos fatos. É bem verdade que nos últimos meses, em função do iminente risco revelado pela pesquisa virtual nos blogs do emirado no mesmo período, esta objetividade eventualmente fraquejava – como observado por um atento e cáustico cronista virtual que naquele momento também já anunciava o próprio fim. Contudo, não havia ali o pendor militante e as diferenças surreais identificadas na comparação entre o registro dos mesmos fatos nas publicações às quais eram atribuídas maiores tiragens no período.
Achara uma nova questão, quem sabe uma nova hipótese? Perderia mais tempo no trabalho, mas sua curiosidade não teria como ser negligenciada. O que teria motivado a denúncia da subvenção historicamente destinada ao periódico às instituições de salvaguarda do direito difuso num ano eleitoral? Seria essa uma questão de direito difuso? Por que a soberana da dinastia local recém restaurada no poder teria sido tão célere na substituição do periódico por uma burocrática publicação de atos oficiais de seu reinado? A quem interessava calar vozes inteligentes e independentes naquela planície?
Crônica publicada na edição de hoje da Folha da Manhã.
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Qualquer semelhança é mera coincidência?
Walnize Carvalho
Postar um comentário