Dura realidade também para nós! Ilustrando o equilíbrio do Campeonato brasileiro, dias após o Fluminense perder para o fraco Paraná - com direito a frango do goleiro de nome presidencial - e setenta e duas horas após o triunfo rubro-negro sobre o virtual campeão São Paulo, amargamos mais uma derrota em Fla-flus...
Para mim, na atual aridez de bons jogadores, duas mudanças, uma em cada time, explicam o resultado. Thiago Neves, ainda que discreto no jogo, dá qualidade ao meio-campo tricolor e foi decisivo ao marcar o segundo gol. Já Maxi, suspenso, fez falta e determinou o retorno do meio-campo só de volantes no Mengão, já que Renato Augusto continua entregue ao departamento médico e Roger de chinelinho. Toró, além de "limitado" é tricolor!
Para digerir melhor a derrota - se é que isso é possível - só recorrendo a Nelson Rodrigues:
(...) Foi assim no pré-diluviano Fla-Flu de 1919. Lembro-me que, naquela época,
apareceu, na minha rua, um profeta. Eu teria meus 7 anos salubérrimos. Entre parênteses, o Flamengo vergava ao peso do próprio favoritismo. E o profeta que era um pau-d’água irremediável começou a dizer, de porta em porta: - "O Fluminense vai ganhar! O Fluminense vai ganhar!" Foi assim, de segunda a domingo. Ninguém acreditou no vidente encharrado de cachaça.
Mas aí é que está: -um pau-d’água é também suscetível de mediunidade. Até que chega o domingo do Fla-Flu. Naquele tempo, a cobertura jornalística para o futebol era escassa ou nula. Não havia rádio, não havia nada. Uma notícia levava meia hora para chegar de uma esquina a outra. Pois bem: - e, apesar disso, não se falava senão no Fla-Flu. Era o tema obrigatório, nas farmácias, velórios e sobrados.
E nada descreve a total euforia rubro-negra. Como agora, a torcida flamenga estava certa do triunfo. Preparou-se uma banda. Quando acabasse o Fla-Flu, a "Marcha de Aída" ia soar, de uma ponta a outra da Rua Paissandu. Cada jogador rubro-negro seria levado na bandeja comoumleitáo assado. Sacos de confetes, caixbes de serpentina, corneteiros a rzvalo. Ia ser uma apoteose nunca vista, assim na terra, como no céu. E só um sujeito, entre tantos, entre todos continuava a repetir comum a pertinácia jucunda de bêbado: - "O Fluminense vai ganhar!"
Contra tudo e contra todos, realmente o tricolor enfiou, no rubro-negro, uma de 4 x 0. Lembro-me que Bacchi fez o último "goal" passando a bola por entre as pernas do inexpugnável Píndaro. E mais - continuou driblando e entrou com a bola e tudo. Entre um Fla-Flu e outro, há a distância infinita, milenar de quase meio século. E o que importa relembrar é que, também naquela ocasião, houve um Maomé, houve um Moisés, que foi o já citado pau-d’água.
Eis o que nossa admirável burrice não admite: - não há clássico ou pelada que não tenha o seu profeta.
Crônica: Tudo É Fla-Flu, O Resto É Paisagem
Agora o blogueiro quer saber quem foi o desgraçado do pé-de-cana que resolveu dar uma de Profeta nos últimos três dias?
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
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