O que só os Governadores não ouvem
Rio de Janeiro, 7 de agosto, 4 horas da madrugada, Zona Norte, bairro do Engenho Novo. Começa mais um capítulo da triste realidade carioca: a violência urbana. Um tiroteio que durou cerca de 27 minutos, vindo do Morro do São João, demonstra o poder de fogo dos traficantes cariocas. Como esses tiroteios já se tornaram costume na capital do estado, você não encontra mais pessoas comentando sobre isso no outro dia de manhã.
Nasci e morei na cidade do Rio de Janeiro, neste mesmo bairro, durante 19 anos. Os tiroteios já existiam, alguns inclusive com duração maior do que este relatado acima, mas os comentários no dia seguinte eram certos, seja nas padarias, no ônibus, nas escolas. A indignação se fazia presente na vida do carioca. Hoje, infelizmente, ela não se apresenta mais. O carioca já se acostumou com a violência. Conversando com meus primos no outro dia, eles afirmaram que algumas pessoas continuam caminhando normalmente na rua, mesmo diante de troca de tiros. São raras as pessoas correndo pelas ruas. Existem casos sim e a TV os exibe, mas não é mais comum.
A violência carioca não foi inventada, ela é fruto de erros cometidos pelos responsáveis pela segurança pública e pela omissão dos políticos. Segurança não se faz unicamente com polícia na rua, portando armas pesadas, nas entradas das favelas e morros. Sabemos também que as ações de combate à violência devem ser feitas através de parcerias de diversos órgãos, como prefeituras, estado, união, ministério público e outros, mas, entretanto, o governo estadual deve chamar para si a responsabilidade da segurança pública, cumprindo assim a uma de suas funções perante a Constituição.
Já passou da hora de os governantes do Rio criarem um plano sério para diminuição dos índices de violência. É preciso garantir a recomposição salarial; elaborar um projeto de capacitação dos profissionais ligados à segurança pública, assim como uma campanha de valorização da carreira; criar ações integradas entre Polícia Milita, Polícia Civil, Guarda Municipal e órgãos afins para combate a ações que incentivem a criminalidade como também a criação de um plano integrado de ações dentro de comunidades carentes, com atividades de cultura, educação e esportes, voltadas para as crianças e jovens, para que os mesmos não sejam aliciados para o crime.
Um Gabinete de ação integrada, que ficaria responsável pelo monitoramento através de câmeras instaladas em áreas com altos índices de criminalidade, é necessário, pois garantia maior agilidade nas ações de prevenção e combate a delitos. O Instituto de Criminalista tem que ser reformulado, transformado-o numa Central de Inteligência, com profissionais capacitados para solucionar crimes, combater o tráfico de armas e drogas nas entradas da cidade, dotando esta Central com os melhores equipamentos e recursos existentes.
Todo dia e há muitos anos, tem tiroteio na cidade do Rio, mas só os Governadores não ouvem.
Marcel Cardoso cursa Licenciatura em Geografia no Instituto Federal Fluminense, onde exerce a função de Presidente do Diretório Central dos Estudantes. É ex – Diretor de Políticas Institucionais da União Estadual dos Estudantes / RJ.
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