terça-feira, 11 de agosto de 2009
O ônus de liderar o atraso
A atual conjuntura política é altamente desfavorável ao Governo Lula e ao seu plano de hegemonia continuada. Nas condições histórico-institucionais da vida política nacional, na qual prevalece a lógica do "Presidencialismo de Coalizão", a constituição de maiorias políticas é volátil e sujeita aos particularismos mais atrasados (coronelismo, patrimonialismo, privatismo, et alii). Esse pacto circunstancial entre atores reformistas e atores comprometidos com as formas arcaicas (não-ocidentais) de "gerenciamento" do domínio de poder local (e regional) é o efeito mais deletério do nosso sistema político-partidário. Entretanto, como esse sistema possui raízes em velhos hábitos de nossa cultura política, não é plausível que uma mera reforma eleitoral possa alterar esse estado de coisas. Portanto, é essa lógica perversa de captura do novo pelo arcaico (do qual também foi "vítima" os governos de FH) que também limita e condiciona o governo Lula. Acrescente a isso o efeito distorcivo do Lulismo sobre a a correlação de forças políticas orgânicas e dinâmica coletiva dos partidos (especialmente do PT), veremos a gravidade do imbroglio em que estamos metidos. Por isso, o peso da defesa de Sarney transcende os limites de sua decadente biografia, pois é fruto de um compromisso histórico que viabiliza não só a atual "governabilidade" mas a própria estabilidade do sistema (denominado pelo professor Werneck Vianna, não sem ironia, como "O Estado Novo do PT"). No jogo político preparatótio para a sucessão de 2010, o Presidente Lula parece ter jogado todas as fichas num embate plebiscitário entre os defensores e opositores ao seu governo. Como afirmou Ciro Gomes, em recente entrevista ao jornal Valor Econômico: "A se dar crédito que o presidente Lula escolheu Dilma candidata, para compor a chapa com o PMDB e convocar parceiros para um plebiscito contra o candidato do PSDB, se é isso o risco de perder a eleição hoje é muito maior do que a possibilidade de ganhar. As contradições, não são pequenas, desta coalizão PT-PMDB. Essa crise do Senado é só uma caricatura disso. Só quem suporta isso é o Lula. O risco de perder a eleição é real nessas bases. (...) Está na mão da Marina. Se ela aceitar a convocação do PV, ela implode a candidatura da Dilma. Implode." Talvez esse seja o legado mais sinistro da crise do "mensalão": a captura dos reformistas pela lógica do maniqueísmo pró ou contra Lula. Esse radical empobrecimento da diversidade política (e da sua formulação coletiva) e amesquinhamento (e criminalização) da própria atividade política, pode levar a derrocada do Projeto de transformação da sociedade brasileira, iniciada pelos Governos do Presidente Lula, como também pode colocar em risco a própria Democracia.
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