terça-feira, 18 de novembro de 2008

Muita semelhança e nenuma coincidência.

Domingo fui ao teatro.
Espero que Bárbara Heliodora nunca leia este pretensioso texto que não pode ser considerado uma crítica teatral, visto que não tenho competência para tal.
Digamos que são impressões de um expectador e, por que não dizer, de um fã das comédias de Eugênio Soares.
E mais uma vez não me decepcionei, estava lá o estilo inconfundível e escrachado de Seu Carlinhos. Em muitas cenas é possível imaginar o texto dito por ele e em seguida o riso franco que sempre compartilhamos quando temos a oportunidades de jogar papo fora e rir ironicamente da miséria humana. Não da pobreza, que nos sensibiliza. Mas da miséria dos espíritos que viceja nesta Planície ainda com mais vigor que a miséria social!
E dos textos e personagens de Eugênio brota toda a pobreza de espírito da Patuléia do Brejo. De forma irônica e impiedosa. Não é diferente com Nenhuma Semelhança é Mera Coincidência, espetáculo dirigido pelo craque Fernando Rossi, com a Cia De Patifaria em cena. E não é mesmo coincidência. A saga da escroque Genecilda e o perfil de muitos personagens revelam o caráter - ou a falta dele - que caracteriza essa gente a imagem e semelhança de sua representação política recente. Nem precisariam certas referências explícitas no texto para vermos nas ações da "arraia-miúda" o modus operandi simplório e vil que se reflete na gestão temerária da coisa pública em Campos. Eugênio sugere que, para além de vítima, os cidadãos daqui são co-participes da lógica do Telhado de Vidro. Dona Mimi se ressente da filha pilantra, que não arruma um emprego terceirizado para a irmã! A mediocridade está até na fraqueza dos que buscam ilusões para fugir da opressão, da falta de perspectiva e dos "golpes".
O elenco está muito bem, com destaque para Alexandre Ferram, que rouba a cena com personagens expressivos como a adolescente Sara, a Estelinha da Codin e um hilário travesti. O rapaz me parece ter muito talento.
A peça encerra esta semana a temporada no Teatro de Bolso, de 20 a 23 de novembro (quinta a domingo), sempre às 21h. Excelente comédia. Merece casa cheia. Ou a expressiva parcela da classe média local que votou em Arnaldo para manter os duplos e triplos vencimentos na Prefeitura, ou a bolsa de estudos na Universidade para seu filho, ou outros privilégios inconfessáveis tem medo de espelho?

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