quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Entre lagos e pedras

A beligerância retórica de setores da imprensa contra o Governo Lula e a manutenção dos altos índices de aprovação do presidente têm levado muita gente a fazer leituras equivocadas sobre o papel dos grandes jornais no Brasil de hoje. Do lado do Governo há muitas vozes acreditando que a chamada “grande imprensa” não tem mais papel relevante no país, comemoram a expansão dos novos meios de comunicação que estariam promovendo, via internet, uma verdadeira revolução informacional, citam para reforçar este argumento a drástica redução das tiragens verificadas recentemente.

O jornalista Franklin Martins procura sintetizar esse novo quadro social referindo-se ao fim do “efeito pedra no lago”. Segundo ele a idéia dos formadores de opinião – indivíduos de classe média leitores da grande mídia – que emitem interpretações da realidade reproduzidas em ondas concêntricas até alcançarem as margens do lago, ou seja, a imensa maioria pobre da população não se verifica mais. As camadas mais pobres da população adquiriram independência e hoje produzem de modo autônomo suas opiniões.

Comecemos lembrando que a redução de tiragens e o fechamento de inúmeros jornais são fenômenos mundiais, não faz sentido associar este fato a perda de credibilidade dos jornais brasileiros derivada de alguma opção editorial. É redundante dizer que a internet está alterando as formas de produção e difusão de notícias, mas é um equívoco acreditar que as parcelas mais pobres da população são preferencialmente informadas por ela. Considere-se ainda, que mesmo o anárquico universo da WEB com seus incontáveis canais de emissão de informação ainda são muito pautados pelos ditos “jornalões”, basta prestar atenção no volume de escritos destinados a reproduzir, criticar e endossar o que é publicado na grande mídia.

Quanto ao fim do “efeito pedra no lago” penso que não ocorreu, isto porque não pode ter acabado aquilo que nunca existiu. A idéia dos “formadores de opinião” é um misto de preconceito e arrogância de certos setores que acreditam fazer parte de uma “elite” pensante. É preconceituosa porque parte da premissa que as camadas pobres não têm capacidade para interpretar a realidade e formular suas opiniões de forma autônoma. É arrogante porque considera que os setores “mais esclarecidos” são as mentes pensantes da nação organizadores e tradutores do mundo para uma maioria passiva que espera cair dos extratos sociais superiores as idéias e valores que adotarão. Fosse assim, o Brasil deveria ter sido um país de grandes consensos. Não foi e não é. E se em determinadas circunstancias houve momentos marcados pela produção de consensos mais ou menos estáveis isso se deveu mais a capacidade de percepção da direção para onde pendiam as preferências das massas populares que propriamente o contrário.

Os grandes jornais continuam tendo grande relevância no Brasil. Adotaram uma postura política determinada e se transformaram em agentes mais ativos que os partidos de oposição, gozam de uma unidade ideológica sedimentada, são capazes de mobilizar poderosos atores e acabam por autorizar emissores, credenciar e desautorizar argumentos além de oferecer versões que se não alcançam os extratos mais empobrecidos informam certos setores das classes médias e camadas superiores.

Se os grandes jornais não conseguem com seus ataques reduzir a popularidade do presidente Lula deve-se ao fato de não ser possível reinventar a realidade a partir do noticiário. Não dá para ganhar o jogo controlando o placar. Tivesse o Brasil em crise e piorassem as condições de vida da maioria a grande imprensa estaria em condições de vocalizar a insatisfação e canalizar o inconformismo. Em um país que cresce e consegue distribuir renda é impossível convencer do contrário. Lembremos das palavras do poeta cubano José Martí: “Nos povos, com nos homens, a vida se cimenta sobre a satisfação das necessidades materiais.”

Artigo publicado no Monitor Campista

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