terça-feira, 10 de novembro de 2009

Sobre preconceitos, intolerância e educação

No ano passado desenvolvemos numa escola privada onde leciono um projeto sobre tolerância, compreensão e respeito com as diferenças presentes na sociedade. A idéia, que envolveu todas as disciplinas e séries, era abrir horizontes na visão de mundo daqueles estudantes da educação básica para a convivência harmônica com o outro, ou seja, combater preconceitos. Considerei aquela iniciativa uma das mais importantes ações pedagógicas das quais me ocupara recentemente, não obstante me preocupe em cotidianamente inserir no conteúdo programático conceitos e temas transversais que remetam a promoção da cidadania e combatam os preconceitos. Isso porque é chocante perceber em adolescentes de classe média alta, com bom acesso a informação e a uma educação de excelente padrão, em pleno século XXI, algumas atitudes e declarações que assustam, mesmo em uma terra “tradicionalista” como a nossa. Os casos de bullying que administramos cotidianamente com a habilidade possível e a firmeza necessária também são preocupantes. Minha breve experiência profissional com “calouros” de cursos superiores não revelou nada distinto, ainda que tenha se dado em instituição que classifica seus alunos em vestibular concorrido.
Esta reminiscência me ocorreu ao acompanhar no noticiário o bizarro caso de violência e desrespeito contra uma bela estudante de uma universidade caça-níqueis no interior de SP, recentemente expulsa da “universidade” por ser vítima da histeria coletiva dos “estudantes” de tal instituição – identificados por um dos seus diretores, em entrevista a uma rede de TV, como assíduos frequentadores dos bares que proliferam nos arrabaldes da tal instituição de ensino. A atitude dos executivos do empreendimento que comercializa educação não poderia ser mais infeliz. Num momento em que as políticas públicas de educação como o Pró-Uni e o Reuni expandem o acesso dos cidadãos, especialmente jovens, ao ensino superior, é importante que aí se promova algo mais que qualificação profissional, é preciso formar seres humanos. O cinismo e o pragmatismo da direção da Uniban deveria ser punido ao menos com a suspensão de qualquer benefício relacionado ao dinheiro público a tal instituição, seja por concessão de bolsas ou por renúncia fiscal.

Artigo publicado na edição de ontem (09/11) da Folha da Manhã.

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