quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O Muro e seu Fim 2

Passados 20 anos do fim do Muro de Berlim e de "tudo" o que representava, temos o dever intelectual de ir além da mera comemoração (e adesão ao capitalismo) e estimular diferentes interpretações sobre um dos eventos mais decisivos do século 20. Por isso, optamos por repercutir um ponto de vista alternativo ao do mestre Hobsbawm: segue abaixo uma parte da entrevista realizada com Richard Sennett (autor do instigante O Declínio do Homem Público: as tiranias da intimidade. Tradução: Lygia Araújo Watanabe — São Paulo; Companhia das Letras, 1988.) pelo jornal a Folha de S. Paulo no último domingo.

- Pergunta: Existe a crença generalizada de que o colapso do bloco socialista desencadeou a globalização. Mas o senhor e outros estudiosos separam os dois processos.
- Sennett: É tentador tomar a queda do muro com metáfora perfeita para a gobalização, mas ela não procede.
São dois desdobramentos distintos. Não se deve enfocar a queda e a dissolução do império comunista como consequências do ímpeto capitalista. (...)
Quando a União Soviética foi disolvida, muitas dessa economias soberanas imaginavam que poderiam se beneficiar do sistema mundial. Mas não demoraram a compreender que por muito tempo seriam apenas os parceiros pobres.
-Pergunta: De que data o sr. identifica o atual ciclo de globalização?
- Sennett: De muito antes, de 1971, com a ruptura do acordo de Bretton Woods (1944), que regulava o fluxo comercial e financeiro no mundo ocidental. Aconteceu quando os EUA abandonaram unilateralmente a conversibilidade de sua moeda e o padrão-ouro. (...)
- Pergunta: O sr. não crê, portanto, que os EUA tenham vencido a Guerra Fria?
- Sennett: Isso é uma estupidez. Nos anos 80, o presidente Ronald Reagan havia aumentado imensamente os gastos com armamentos, e costumava-se a dizer que esses gastos militares induziram a bancarrota soviética: bobagem.
Muitos países do leste não tinhama capacidade de gerenciar a própria transformação. O interessante é determinar por que os chineses, que também tinham um comunismo estatal rígido, não desabaram.
E isso dependia de qualidades que a China possuía antes da era comunista.
A China sempre teve uma estrutura estatal disciplinada e um sistema educativo magistral, bem como uma base popular muito entusiástica. (...)
Culturalmente, tinham todo o necessário para decolar.

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