quarta-feira, 19 de setembro de 2007

A "esquerdofobia aguda" do Sr. Kamel

O Poderoso Chefão do jornalismo da Rede Globo brindou a inteligência nacional com mais uma pérola da sua sanha direitista. A última brilhante manifestação de sua lavra foi um artigo no Jornal O Globo de 18/09/2007 (para o texto na íntegra clique aqui) . A sua "revelação" agora é que o MEC distribui centenas de milhares de exemplares de um livro didático de História de clara tendência socialista e de feroz crítica ao capitalismo. E ainda distribui "gratuitamente". Após citar vários exemplos da crítica anticapitalista do livro, eis a chave de ouro do texto do Poderoso Chefão:

"Nossas crianças estão sendo enganadas, a cabeça delas vem sendo trabalhada, e o efeito disso será sentido em poucos anos. É isso o que deseja o MEC? Se não for, algo precisa ser feito, pelo ministério, pelo congresso, por alguém."

Como professor de História, alguns terão que me desculpar, há um bom tempo, tenho sugerido a adoção do referido livro nos diversos locais em que trabalhei. Mas não estou desacompanhado na escolha, trata-se de uma das coleções didáticas de história mais vendidas no Brasil, uma das preferidas nas escolhas dos professores da rede pública: a coleção "Nova História Crítica".

Conheço bem os livros da coleção e concordo plenamente com o Sr. Kamel num aspecto: o livro é um severo crítico do capitalismo. A nossa concordância acaba aqui. Para o Poderoso Chefão este seria um delito grave para o qual clama alguma atitude.

O pano de fundo da revelação trazida pelo artigo é a cruzada do Sr. Kamel contra o governo LULA. Lendo o artigo, um cidadão de boa-fé poderia imaginar que Ministério da Educação sob o governo LULA tem uma política de doutrinação anti-capitalista e simpática ao autoritarismo de esquerda.

O que não está escrito no artigo é que as coleções de livros distribuídos pelo MEC passam por duas avaliações.
  1. Na primeira, uma comissão de avaliadores oriundos das principais Universidades do país analisa detidamente vários aspectos das coleções, algumas são recomendadas e outras não. As análises das coleções formam um guia que é encaminhado para todas as escolas públicas do país.
  2. A segunda avaliação é feita pelos professores. Estes professores, em suas escolas, escolhem as coleções que julgarem mais adequada ao processo educativo e encaminham as suas escolhas para o MEC.
Portanto,
os livros que chegam às escolas públicas são resultado da escolha dos professores.
Estamos falando da escolha de dezenas de milhares de professores de História espalhados pelo Brasil. O Poderoso Chefão sabe disso mas despreza este processo democrático de escolha e quer nos induzir a imaginar uma conspiração petista autoritária de manipulação mental das criancinhas. A desfaçatez deste senhor não tem limites e é por isso que ele é o Poderoso Chefão.

Detalhe importante, o sucesso da coleção entre os professores é bem anterior ao governo LULA. O MEC do governo FHC já distribuía esta coleção anticapitalista de História para centenas de milhares de crianças do Brasil...sil...sil...sil...
... e pasmem... gratuitamente!

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