quarta-feira, 27 de maio de 2009

O cabelo do presidente (o deles) e as cotas

Curiosa a imagem:
(May 8,2009; Official White House Photo by Pete Souza)
Pelas bandas de lá, na Casa Branca, o presidente Obama se curvou para o garoto sentir que o cabelo do presidente é igual ao seu. Parece querer mostrar:
- É filho, sou negro mesmo, igual a você!

Impossível anos atrás, esta cena se tornou viável pela intensa luta pelos direitos civis e pelo sucesso da política de ação afirmativa estadunidense.

Por aqui, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro resolveu (votação: 13 a 7) aceitar que as reservas de vagas para as universidades públicas estaduais são promotoras de grupos de privilegiados. Vamos lembrar que estes "grupos privilegiados" são: afrodescendentes, indígenas, estudantes de escola pública e alguns outros casos de filhos de policiais, bombeiros e agentes penitenciários mortos ou incapacitados no desempenho de suas atividades profissionais. Privilegiados!?

Parece que não importou que as cotas nunca tenham sido preenchidas completamente. Também não se levou em conta que, embora o desempenho médio dos cotistas seja sensivelmente inferior no início da trajetória acadêmica, ao longo do curso, o desempenho é semelhante aos dos não cotistas.

O tema é polêmico. Ainda bem! Temos que discutí-lo sempre pois trata-se de discriminação positiva. É difícil aceitar que tenhamos que acertar contas de situações construídas na história da sociedade brasileira. Parece mais lógico e racional argumentar que não posso ser penalizado por problemas do passado. E os outros podem?

Usando o clichê: "Eu tenho um sonho"... o de não achar emocionante a eleição de um presidente negro ou operário. Nem nos EUA, muito menos aqui.

5 comentários:

FÁBIO SIQUEIRA disse...

Boa Don Cabezza!
Essa reflexão mostra que, apesar da "criminalização" da política, o Judiciário e o PIG conseguem ser muitas vezes tão ou mais reacionários que políticos conservadores.
No caso, a justiça acatou proposição do ridículo facista Bolsonaro, enquanto o Congresso nacional recentemente reiterou de forma consensual a importância da política de cotas como importante ação afirmativa.
Abs.

Renato Barreto disse...

Cabeça, gol de placa.

Anônimo disse...

Neste blog só tem "cabeças" pensantes!

Anônimo disse...

Muito oportuno o comentário e a associação com o contexto nacional.

Anônimo disse...

Cotas raciais

Uerj vai recorrer; alunos apoiam a direção

Fui hoje à Uerj e lá o clima era de união para manter as cotas.

Falei para uma plateia de cotistas e não cotistas e o clima geral era de susto pela decião da Justiça. A Uerj tentará reverter a liminar que suspendeu as cotas raciais. O DCE disse que concorda com a direção e a luta a favor das cotas.

A Uerj foi a primeira escola a adotar o sistema. Hoje, segundo professores com quem conversei, eles estão orgulhosos do desempenho dos cotistas e vão fazer uma ampla pesquisa para saber o resultado da política no mercado de trabalho. Eu fui lá para abrir a V Amostra de Estágios.

O que eu vi hoje lá foi uma platéia cheia da bela diversidade do Brasil: pretos, brancos, pardos, meninos, meninas, moradores de áreas diferentes do Rio, juntos, integrados, debatendo sobre riscos e oportunidades do mercado de trabalho. Uma prova viva de que conviver juntos no mesmo espaço, em pé de igualdade é o melhor remédio contra as desigualdades raciais brasileira.

A liminar, explicou o reitor, Ricardo Vieiralves de Castro, suspendeu a aplicação de uma lei que tem oito anos e às vésperas do vestibular. Se não for cassada prejudicará os estudantes que se inscreveram pelo sistema de cotas. E uma medida liminar, como se sabe não pode provocar prejuizos irreversiveis.

Sei que este assunto é polêmico, mas tenho há anos a mesma posição favorável às cotas. Já escrevi muito sobre o assunto, não vou repetir os argumentos. Já ouvi e li muitos argumentos contrários. Não me convenceram. As cotas sozinhas não vão resolver as desigualdades racias, mas são uma das armas para nos ajudar a superar o problema. Não, não acho que elas vão "implantar" o racismo no Brasil, não se implanta o que já existe. E estou convencida - fiquei hoje ainda mais - que a convivência de pessoas diversas, de áreas diferentes da cidade e da sociedade, com histórias diversas cria uma chance de menos distância social no Brasil. Na universidade que estudei só havia brancos. A que vi hoje era mais bonita, tinha mais a cara do Brasil.

As empresas modernas sabem que os times mistos são mais eficientes, que a diversidade no quadro de funcionários aumenta a capacidade de resposta da empresa aos desafios. A Uerj está fazendo a parte dela, que o mercado de trabalha entenda os novos tempos e suas chances.

Mírian Leitão