terça-feira, 26 de maio de 2009

A pedagogia do autoritarismo!

Na manhã de hoje, na Escola Municipal Marlene Henriques Alves, no Jardim Aeroporto, deu-se um episódio lamentavel que sugere alguma dificuldade da SMEC em dar tratamento democrático a questões que envolvem a educação municipal.
A guisa de concluir uma "avaliação externa" das escolas da rede - que segundo o sítio da Prefeitura havia sido concluída ontem - representantes da Secretaria foram a aquela unidade e impuseram a aplicação da prova a alunos de uma determinada turma, que não havia sido pré-indicada pela própria SMEC - por critérios que este blogueiro desconhece - sem a autorização da professora responsável pela turma.
Na nossa visão, o episódio reflete dois problemas anteriores:
1- A tal "avaliação externa" não foi precedida de qualquer discussão com a categoria e com o sindicato, repetindo erros de outras gestões;
2- A melhoria dos índices do município no IDEB não é um fim em si mesmo, para permitir à atual gestão exibir abruptamente um salto nas estatísticas reivindicando para si uma "melhoria" na educação que pode não corresponder à realidade verificada nas escolas.
Não há como alcançar índices consistentes no IDEB se muito não for feito antes pela SMEC no sentido da valorização do profissional e de maciços investimentos na infra-estrutura das escolas. E nesse sentido, ainda há muito o que fazer.
E a tal "avaliação externa" pode ser sim algo benéfico para a rede, mas não deve ser procedida de forma açodada. Seu planejamento e sua aplicação deve envolver as unidades, os profissionais da rede, seus representantes e a sociedade em um amplo debate. Tampouco a aplicação da prova pode ser feita de forma truculenta e por pessoas despreparadas. Não cabe a alguém que tem o mínimo conhecimento pedagógico afirmar que educadores devem se conformar em desenvolver seu ofício utilizando como recurso "papel de pão" - conforme afirmou uma das representantes da SMEC enviada à unidade para aplicar a prova - muito menos quando se está a serviço de uma Prefeitura que dispõe de um orçamento de R$1,5 bilhão, do qual 25% deveria estar investido na educação, conforme prevê a Constituição.
Nunca soube que professores ensinassem em "papel de pão", mas não sou tão menino. Sou do tempo em que antes que qualquer "autoridade hierárquica" uma professora era respeitada como autoridade máxima em sua sala de aula. Gestores que realmente exercem sua "autoridade" não utilizam o poder do cargo para impor sua decisão, conquistam o respeito e exercem liderança a partir do entendimento e do consenso na definição de suas ações, conforme o interesse público.

ATUALIZAÇÃO às 22:30
Leia aqui o relato da Professora Luciana - que foi pressionada e coagida no sentido da imposição da aplicação da tal "avaliação externa" à sua turma - em seu blog pessoal.

8 comentários:

ruivo disse...

se eu to dentro de uma sala de aula lecionando eu quero ver q passa por cima da minha autoridade. isso é uma zona, é por isso q to pensando duas vezes antes de tentar me formar como professor.

Uenfezado disse...

Esperar o que de uma prefeitura que investe mais recursos na rede privada de ensino (por meio de bolsas de estudo) que na sua própria estrutura educacional!!!!

Monica disse...

Poxa, Fábio!!!
Você falou tudo!!!
Parabéns por sua visão e sensibilidade. Que bom te ter do nosso lado!!!
Beijos

Renato Barreto disse...

Essa história é tão absurda que é quase inacreditável. Como ficam os professores destas turmas diante de seus alunos depois de serem humilhados por uma medida insana e por gente que não tem qualificação. O que dizer aos alunos depois disso?
- Eu não tenho culpa!
- Eu não sabia!
- Eu não pude fazer nada!
- Eu não mando nesta sala.
Quem já esteve em sala de aula sabe que autoridade é igual à dignidade, não dá segunda safra, perdeu uma vez, não se recupera mais.

Gustavo G. Lopes disse...

Fábio, você capturou o essencial no título. A falta de diálogo, o constrangimento e o desrespeito aos profissionais e às crianças essa é a marca da gestão educacional da nossa cidade:
"pedagogia do autoritarismo".

Que tal começarem a "avaliação externa" analisando e tornando públicas as escolhas políticas dos investimentos da prefeitura na rede municipal. Como são decididos os orçamentos e executados os recursos? Qual o grau de satisfação dos profissionais com a gestão?

Uma "prova imposta" sem envolver a comunidade escolar, sem debater com a mesma os índices e avaliações que já são produzidas pelo MEC. Isto é puro exercício de intimidação.

Hilda Helena Raymundo Dias disse...

Fábio amado:
Impecável os seu texto!!!
Infelizmente nesta planície os gestores municipais utilizam o poder do cargo para impor sua decisão....
Que boa essa palavra sua!!!
Um abração!!!

Ana Paula Motta disse...

Posso "roubá-lo" lá pro estou Procurando o Que Fazer?

FÁBIO SIQUEIRA disse...

Claro Ana.
Bj.