terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Tríduo Momesco

Quando chegar à suas mãos a edição da Folha da Manhã com esse artigo, já não estarei mais na expectativa sobre o andamento do desfile do Império Serrano, que optou pela releitura de um de seus mais bonitos enredos neste ano. A Beija-Flor também já terá apresentado suas armas na perspectiva de manter o posto de campeã do Carnaval carioca, e você, se gosta de Carnaval como a maioria dos brasileiros, estará literalmente na metade da folia. Assim, este já é o maior desafio desse novato articulista ao longo destas semanas. Imagino que, em pleno reinado de momo, não seja pauta de seu interesse as habituais reflexões sobre política e educação a que se propõe esse espaço!
Então, arrisco inadvertidamente algumas considerações sobre a maior festa popular do país – o título da crônica é uma pérola resgatada por meu amigo Gustavo Soffiati dos antigos carnavais, que tomo a liberdade de citar. Paradoxalmente, esse pierrot apaixonado se dispõe a este exercício diletante na oportunidade ímpar em que se abstém de qualquer exposição à folia. Ainda assim, acredito que a pauta seja menos enfadonha para os que se dispuserem à leitura dessas linhas.
Na verdade, o meu retiro doméstico é a menos interessante novidade de um Carnaval que, contudo, apresenta clara singularidade. Sobretudo em Campos, onde as agremiações carnavalescas locais, inclusive as mais tradicionais – que nos últimos anos se esmeraram em homenagear na Avenida enredos que teciam loas a personagens obscuros ou que ganharam notoriedade por seus vícios e pecados – não estarão em cena. A solidariedade cristã e um convincente discurso sobre a exiguidade de recursos públicos – algo igualmente inusitado no paraíso dos royalties! – permitiram ao governo municipal convencer aos foliões pobres que ficam na cidade e mantém a tradição dos desfiles classificados como “algo horroroso” pelo antigo mandatário. Assim, fora do circuito dos trios do Farol e da opção pela vitalidade do Carnaval em São João da Barra, não há alternativa de efêmera felicidade justamente para a base eleitoral do grupo atualmente no poder. Espero que a experiência dos desfiles extemporâneos – previstos para maio – e um melhor planejamento possam fazer que o próximo Carnaval "não seja igual àquele que passou" para os foliões mais pobres.


Artigo publicado na edição de 23/02 da Folha da Manhã.

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