sexta-feira, 28 de setembro de 2007

LUCIDEZ!

Enfim, entre tantos arautos do apocalipse, uma rara análise lúcida da conjuntura nacional.

Artigo do grande jornalista Celso Cordeiro Filho - publicado no Monitor Campista em sua edição de ontem - que o Blog reproduz na íntegra:

Pessimismo dominante

Uma onda de pessimismo tomou conta dos brasileiros de uns tempos para cá. A vocalização da desesperança partiu especificamente da intelectualidade. Em entrevista recente do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a João Moreira Salles na revista “Piauí”, após fazer uma série de considerações sobre a impossibilidade de mudanças, FHC foi taxativo: “Ninguém se engane. O Brasil é isso mesmo que está aí.” De sua parte, Moreira Salles pareceu concordar com tudo que ouviu e, ao jornal “Folha de S. Paulo”, foi além: “Nossas ambições se tornaram mais medíocres.” O jornalista Clóvis Rossi, por sua vez, lembrou uma conversa que teve nos anos 70 com amigos argentinos exilados que falavam mal de seu país “como uma nação abatida por uma maldição divina da qual jamais se recuperaria.”

E, dando continuidade ao festival de pessimismo, Arnaldo Jabor foi ao fundo do poço e vaticinou que o brasileiro tem de assumir “a própria lepra.” Por sua vez, o jornalista Roberto Pompeu de Toledo, na última página de “Veja”, apontou sinais crônicos de que “o Brasil acabou” como a escola que não ensina, os hospitais que não curam, a polícia que não policia, a Justiça que não faz justiça, a violência, a miséria, a corrupção, as desigualdades. Daí em diante uma seqüência de falas, análises, depoimentos, constatações e declarações aparece na mídia evidenciando a questão. Em meio ao tiroteio verbal e escrito da inteligentzia pátria, resta ao cronista se socorrer com o colunista Alcelmo Góis, de “O Globo”, que revelou em recente pesquisa que 56% dos brasileiros acreditam que o país tem jeito.

Sem ser crédulo ao extremo, mas com ligeira dose de otimismo, creio que as mazelas que nos assolam vêm de muitos anos atrás. E, agora, com o pleno funcionamento da democracia tomamos conhecimento de tudo. Antes, principalmente no período autoritário, tudo que não interessava ao governo era jogado para debaixo do tapete com censura à imprensa e comportamentos afins. E, pensando bem, para o povo a esperança é a última que morre. É só esperar mais um ano eleitoral (2008 vem aí!) que veremos como o brasileiro entra em campo, veste a camisa do otimismo, torce pelo êxito de seus candidatos e exclui os que não se desempenharam bem. Num passe de mágica, tudo é esquecido. É como rever no palco o espetáculo teatral montado em 1974 – em plena vigência da ditadura – onde Clara Nunes cantava e Paulo Gracindo dizia textos de Antonio Maria e Dolores Duran. O título foi exemplar: “Brasileiro profissão esperança.” O brasileiro, convenhamos, é o retrato fiel deste musical.

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