terça-feira, 2 de outubro de 2007

Baixa no PT!

Apesar do fato ser da quinta-feira, o blog assume o cochilo e divide com os leitores - em especial com os petistas e simpatizantes - a má notícia.

Alertado pelo Mestre Roberto Moraes fiquei sabendo hoje (ontem) do desligamento da Vereadora Soninha do PT de São Paulo.

Grande perda. Companheira de boas idéias e iniciativas inovadoras, Soninha vinha compondo o Movimento Mensagem ao Partido. Com sua irreverência habitual - que nunca subjugou sua seriedade - deu este título à sua carta de despedida!

Sai para disputar a Prefeitura de São Paulo pelo PPS. Grande candidata, talvez seja penalizada pela opção por um partido decadente, em função da postura contraditória de figuras como Freire e Jungman, que se associam ao DEM e ao PSDB assumindo posições conservadoras. O mesmo partido que tentou explicar o apoio a Alckmin criticando FHC, ninguém entendeu nada!

Mas aqui não quero discutir a esquizofrenia do PPS, e sim lamentar a perda da Soninha, que lá chega anunciando independência e nos propõe a seguinte questão: a ação política local, em determinados contextos onde um partido limite projetos e iniciativas pode exigir deslocamentos partidários?

Questão polêmica quando a fidelidade partidária - necessária - está na ordem do dia.

Mas esse debate é "conversa comprida". Por enquanto, fico por aqui.

Leia a carta de desfiliação da Soninha:

São Paulo, 27 de setembro de 2007.
Mensagem ao Partido

O título me ocorreu espontaneamente; não resisti à tentação de usá-lo... (É o nome da tese que assinei, ou seja, que eu apoiei no Congresso do PT).
Pensei em escrever apenas “venho por meio desta solicitar minha desfiliação do Partido dos Trabalhadores”. Mas seria formal demais, frio demais para uma relação de 26 anos.
Não, eu não tenho a pretensão de me gabar de ter sido uma das fundadoras do PT (eu tinha 14 anos!). Apenas me identifiquei com o partido desde que ele foi fundado, e sempre me considerei petista e militante. Sem aquela participação “orgânica” que para muitos é a única que vale, mas indo muito além do mero voto na eleição. Pegava material para distribuir, participava das campanhas, entrava em discussões e debates, públicos ou familiares. Essa militância não-orgânica que, acredito, ajudou o partido a crescer em reconhecimento e prestígio na sociedade.
Mas agora estou saindo, e se não quero fazer nada muito frio, também não acho que deva ser “quente”, cheio de carga emocional, ódio e ressentimento.
Nos últimos meses foi assim: alguns me aconselhavam, exortavam, imploravam para que saísse do PT, cheios de fúria – uma parte deles dizendo “eu também era petista, e o partido me traiu”; outra parte, “sempre odiei esse partido”. Havia também os que suplicavam para que eu não saísse: “não acredite no que dizem da gente, é tudo mentira!” -- ou, coincidindo com que eu decidi fazer, “fica, vamos brigar aqui dentro”.
Que nenhum outro partido desperte tantas emoções pró e contra é um fenômeno que não vale a pena discutir agora..
Pois bem: sem drama, sem ódio, resolvi sair do PT. Já andava desanimada demais, sem disposição para continuar brigando dentro dele, por ele.
Em qualquer relacionamento temos problemas, crises, conflitos, divergências. Eles não precisam determinar a separação. Mas, se ao fim de algum tempo, houver mais divergências que afinidades, mais distância que proximidade, chega-se a um ponto em que não faz sentido “segurar” a relação.
Não saio do PT por causa dos erros graves cometidos por integrantes do partido; o desafio de toda instituição é identificar, punir e criar mecanismos para evitar desvios, deturpações, ilicitudes. Nenhuma está imune a isso. Saio porque acho que algumas de nossas inclinações, hoje, são muito diferentes. Onde o partido já foi até intransigente, ficou muito concessivo. Onde eu acho que é o caso de negociar, o PT se recusa. Quem conviveu comigo nesse tempo de mandato sabe das nossas divergências -- naturais, inevitáveis, mas talvez predominantes hoje em dia.
Não vou, de um dia para o outro, renegar o que defendi, só porque saí do partido – se eu nunca deixei de criticá-lo quando estava dentro... Não era defensora fanática, não serei detratora do mesmo tipo. Não sou fanática!
Era muito provável que eu saísse do PT para não entrar em partido nenhum. Já tinha decidido que não seria candidata a um novo mandato na Câmara Municipal. Por desistir da política? Não, para me dedicar ao serviço público em outro lugar, sem planos de disputar novo mandato eletivo e sem procurar outra legenda. Sempre disse que partido perfeito não existe; seria bobagem deixar o PT com a esperança de encontrar um lugar sem problemas, desconfortos, atritos.
O PPS mostrou interesse em ter em seus quadros alguém “independente” -- o tipo de “problema” que eles querem ter, pelo que entendi. Não se apresentou como o céu, o olimpo, a terra pura, mas uma instituição que quer se qualificar, aperfeiçoar, se tornar sempre mais consistente. E que ofereceu a oportunidade empolgante de disputar no ano que vem a prefeitura de São Paulo; a chance de entabular um debate rico, baseado em visões da cidade, diretrizes, propostas, reconhecendo honestamente boas experiências aqui ou em outros lugares do Brasil e do mundo, estabelecendo um compromisso com algumas metas e não promessas fabulosas.
Continuarei com respeito, admiração e afinidades com muitos petistas... Não torço para que o PT "se dê mal"; enquanto a democracia se basear nesse modelo com partidos (pressinto que em algumas décadas teremos outros modos de organização, mas isso é lucubração para outra hora), ela continuará precisando de bons partidos, para que tenhamos o debate, façamos o bom combate. Espero, agora, que se cumpra a profecia de um colega (do PC do B!): “Vai ser bom pra cidade”.

Atenciosamente,

Soninha Francine

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