quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A "Era das Máquinas"!

No início da noite de ontem, tomei um café com o Mestre Luciano D'Angelo, depois coversamos longamente sobre política, o que sempre é agradável com um interlocutor experiente e observador como o meu querido amigo. Mesmo quando o cenário não é dos mais animadores.
Confortavelmente instalado no sofá da sala de sua residência, ouvi do Professor uma versão diferente da massificada pela mídia sobre o resultado das eleições nas principais cidades do país, no último domingo.
Segundo a cantilena da grande mídia, as vitórias de Gilberto Kassab, Eduardo Paes e Márcio Lacerda respectivamente em Sampa, Rio e Belô, deveram-se à obra e graça dos governadores Serra, Sérgio Cabral e Aécio Neves. Teriam sido vitórias "pessoais" destes criadores, levando á vitória "criaturas" até então sem tamanha densidade eleitoral.
Luciano suspeita, e me convenceu, que o resultado não significa exatamente isso. Segundo sua tese, o resultado é consequencia de um peso cada vez maior representado pelas máquinas administrativas locais nos pleitos municipais. Tanto maior esse peso, se combinado com a máquina do Estado. Assim foi o caso de São Paulo e de Belo Horizonte. Em que pese as instabilidades na candidatura do estreante Márcio Lacerda, em ambos os turnos sob ameaça, a força das máquinas comandadas pelos bem avaliados Aécio Neves e Fernando Pimentel garantiu no final folgada liderança para o afilhado de ambos. Kassab também não se valeu apenas do apoio de Serra, mas do manejo eficiente da máquina municipal sob seu controle desde 2006.
No Rio foi diferente. Aparentemente, o perfil de Gabeira contraria esta tese. Dos 5% no início da campanha surgida nesta blogosfera, o canddidato cresceu, de fato impulsionado pelo seu perfil de anticandidato, numa onda tipicamente carioca, até alcançar os 25% que o levaram ao 2º turno. Fenômeno eleitoral embalado por um estilo diferente de se fazer política. Ok! A partir daí, pergunta Luciano, que adesão significativa ele recebeu? A Vereadora Lucinha, dona de um feudo eleitoral na zona Oeste, já estava com ele desde o 1º turno! E ainda houve o desagradável incidente da conversa telefônica captada por abelhudos, que, se não retirou o entusiasmo da Vereadora pela campanha pode ter causado prejuízos em sua base. O crescimento do nosso Verde no 2º turno seria então resultado da discreta ação da máquina operada por César Maia, cuja expressão nas fotos estampadas na edição de hoje d'O GLOBO revela toda contrariedade com a vitória de seu ex-office boy Eduardo Chuchu Paes. Ali, foi preciso um esforço fenomenal de toda máquina estadual, amparado por um amplo guarda-chuva de forças políticas para derrotar por míseros 50 mil votos a inusitada aliança entre o anticandidato e a máquina operada por Maia por tanto tempo.
Assim, não há no resultado da eleição vitória "dos governadores", nem derrota de LULA. O Presidente aliás, em entrevista a Ricardo Kotscho destacada aqui no Comentários, lembrou bem que entre os Prefeitos de capitais em condição de se reeleger, só perdeu o Serafim Corrêa, em Manaus. Outros, que não podiam disputar de novo, fizeram o sucessor com facilidade no controle das máquinas, como por exemplo João Paulo, em Recife.
É claro que esta tese se refere a uma tendência geral. Em política e em eleições sempre há exceções, que se destacam até por contrariar a "regra". E conjunturas específicas. Assim, antes que que algum atento e milongueiro leitor se reporte ao fato desse ser um blog local - de Campos - e questione o blogueiro sobre por que Arnaldo Vianna não se favoreceu da máquina da qual se manteve próximo apesar de todo o desgaste do "seu amigo" Prefeito, vamos a um palpite sobre isso.
O leitor poderia ainda dizer que, ao contrário de 2004 e 2006, a máquina estadual não colaborou com a candidatura do PMDB. E que o apoio do governo Federal e do governo Estadual era a todo momento reivindicado por Arnaldo, reivindicado...
Apesar de inúmeros boatos plantados na imprensa local, nem o Presidente nem o Governador compareceram a ato de campanha do PDT. Nem gravaram depoimento específico para o programa de TV. O "apoio" a Arnaldo era sempre manifestado por prepostos de segundo escalão. Os quadros eleitorais do PT local com histórico de mais densidade, isto é, os petistas que tem voto, não concordaram com a aliança com o PDT e não fizeram a campanha de Arnaldo. Além disso, o vice-Governador Pezão apareceu na campanha de Rosinha, garantindo a parceria com o Governo do Estado. Assim o apoio efetivo ao candidato estava mesmo restrito à máquina municipal. Numa conjuntura muito específica, onde o desgaste de Mocaiber foi devastador. Justamente por não poder prescindir da máquina administrativa local, Arnaldo levou como contrapeso o fardo de defender o "amigo", gerando uma situação excepcional que lhe custou a eleição.
Em suma, longe de representar desgaste de LULA, os resultados de domingo apontam que, no que se refere a eleições, estamos em plena "Era das Máquinas". Quanto aos efeitos disso para a democracia e o sistema eleitoral, é assunto para outro longo papo!

7 comentários:

Anônimo disse...

Pela analise , foi por esse o motivo que o Arnaldo Pinoquio Viana , conseguiu se manter no Poder durante todos esses anos. Acho tambem que justifica a sua votação , apesar da DERROTA.
Ele só não contava que a rejeição do Mocaiber era maior que a Maquina.

Anônimo disse...

Ouvir Luciano D'Angelo é sempre bom, porém no caso em destaque,uso da máquina pública ($), não e novidade para ninguém.

FÁBIO SIQUEIRA disse...

Caro anônimo(a),

Ao reproduzir aqui nossa conversa com Professor Luciano, não tínhamos a intenção de levantar tese original.
Constatamos sim a consolidação dessa tendência, ao passo que a grande mídia preferiu atribuir o desmpenho de Prefeitos eleitos em grandes centros a um suposto carisma ou capital político dos governadores.

Anônimo disse...

Carisma realmente não basta. Mas, em Campos, a força das máquinas existe há muito. Agora, uma coisa é certa: Garotinho e Rosinha são muito mais carismáticos que o carrancudo Arnaldo. Vamos acompanhar a carreira dele daqui pra frente. E se a intenção não era levantar nenhuma tese original, para que recorrer à análise de um "Mestre" para dizer o óbvio? Espero que, desta vez, publique meu comentário, ao contrário do que fez com o anterior, que não era nada ofensivo, mas dizia algumas verdades.

FÁBIO SIQUEIRA disse...

Como achei que tivesse deixado claro, não "recorri" a análise de ninguém em busca de uma tese original.
Enfim, o que houve foi uma conversa casual, que despertou minha atenção para a consolidação de uma tendência - preocupante para a Democracia - no plano nacional!
Assim, por achar interessante - e, repito, preocupante - essa tendência, que me pareceu lógica, porém diversa da manifestada pela grande mídia, que preferiu incensar os governadores do sudeste, resolvi dividir a reflexão com os leitores desse espaço.
Lamento se foi óbvio demais ou enfadonho para os iluminados "anônimos".

Quanto a distinção entre "verdades" e versões, ela é determinada por critérios, assim como a distinção entre o que é "ofensivo" ou não. E aqui, por hora, estes critérios são definidos a meu juízo. É esse o sentido da moderação.

Anônimo disse...

Ouvir Luciano D'Angelo é sempre bom, porém no caso em destaque,uso da máquina pública ($), não é novidade para ninguém("e me convenceu").


TEXTO DO FÁBIO SIQUEIRA:
"Luciano suspeita, e me convenceu, que o resultado não significa exatamente isso. Segundo sua tese, o resultado é consequencia de um peso cada vez maior representado pelas máquinas administrativas locais nos pleitos municipais. Tanto maior esse peso, se combinado com a máquina do Estado."

FÁBIO SIQUEIRA disse...

Isto está parecendo um "diálogo de surdos", mas, vamos lá!

Contextualizando o trecho citado:
"Segundo a cantilena da grande mídia, as vitórias de Gilberto Kassab, Eduardo Paes e Márcio Lacerda respectivamente em Sampa, Rio e Belô, deveram-se à obra e graça dos governadores Serra, Sérgio Cabral e Aécio Neves. Teriam sido vitórias "pessoais" destes criadores, levando á vitória "criaturas" até então sem tamanha densidade eleitoral.
Luciano suspeita, e me convenceu, que o resultado não significa exatamente isso. Segundo sua tese, o resultado é consequencia de um peso cada vez maior representado pelas máquinas administrativas locais nos pleitos municipais."

Ou seja, Luciano não constatou uma "novidade", mas "me convenceu" de que há uma CONSOLIDAÇÃO da tendência, ou seja, um CRESCIMENTO do peso das máquinas municipais nos processos sucessórios - apesar de avanços e da luta da sociedade civil e de setores da Justiça em defesa da cidadania e no combate pela ética na política.
Esta constatação foi destacada neste blog pois a linha editorial hegemônica na grande imprensa atribuiu aos governadores o protagonismo no resultado das recentes eleições. Agora está claro?