O blog resistiu a tratar do tema do absurdo assassinato da jovem Eloá, em Santo André, após sequestro a que foi submetida a adolescente pelo ex-namorado - episódio que já é do conhecimento de todos.
As razões para tal "decisão editorial" não são claras para esse blogueiro, que se manteve arredio ao lamentável acontecimento, apesar de regularmente informado por D. Regina sobre o mesmo. Contudo, acho que o belo artigo do meu amigo Celso Cordeiro publicado hoje no Monitor Campista dá pistas do mau estar que as coberturas jornalísticas contemporâneas de tragédias privadas causam em mim, com a palavra o craque das letras:
Refém em casa
A recente tragédia de Santo André (São Paulo), onde uma menina de apenas 15 anos foi morta, atinge a todos nós, fazendo-nos reféns em nossas próprias casas. O farto noticiário na televisão – algumas vezes beirando ao sensacionalismo – nos faz próximos do acontecimento e, logicamente, provoca uma sensação de frustração perante o desfecho do seqüestro. Esperávamos um happy end, como nos filmes de Hollywood, e vem a desgraça. O ser humano tem um lado mórbido e, por isso mesmo, quer saber detalhe por detalhe das tragédias. Não é nem sempre por maldade, mas por curiosidade mesmo. A prova mais eloqüente disso é a observação de Nelson Rodrigues: “A morte do cachorro da esquina comove mais do que mil no Vietnam”.
Com isso, ele explica que a proximidade nos torna parte do acontecimento. Mil mortos longe de nós tornam-se indiferentes ao passo que o desaparecimento do cão que víamos todos os dias nos apieda. Assim é o homem com todas as suas contradições. Se fechar em copas e não tomar conhecimento do que acontece à sua volta seria a saída para não sofrer? Claro que não. Mas, por outro lado, devemos reconhecer que ficamos presos às tragédias mais por curiosidade do que por piedade. A sociedade moderna induz à indiferença mesmo parecendo ser real a proximidade da dor alheia.
Aparentemente estamos todos solidários com a dor da família da menina morta, mas passados alguns dias outra tragédia ocupará as nossas atenções. A mídia veiculará novos protagonistas e todos nós estaremos diante da televisão a fazer observações sobre as atrocidades mostradas. A banalização da violência vai aos poucos nos consumindo e levando ao desinteresse. Alguns leitores podem estar achando o cronista amargo, mas prefiro expressar minha angústia do que parecer um falso solidário. É melhor ter uma consciência crítica – especialmente a auto-crítica – do que se curvar ao comportamento padrão ditado por conveniências sociais. Sem ironia, mas a diversão do brasileiro passou a ser o espetáculo da dor.
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
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